A inteligência artificial (IA) está transformando o mundo, e o Brasil não fica atrás nessa evolução. Porém, com grandes avanços vêm grandes responsabilidades.
O Projeto de Lei 2338/2023 (PL 2338/2023) busca estabelecer um marco regulatório para o uso da IA, protegendo direitos fundamentais e garantindo inovação sustentável.
Neste texto, exploraremos os principais pontos do PL, suas possíveis implicações e a relevância de uma regulamentação robusta no Brasil.
O que diz o PL 2338/2023?
O PL 2338/2023, também conhecido como Marco Legal da IA, é uma iniciativa para criar diretrizes claras sobre o uso da IA no Brasil.
Ele visa garantir segurança, transparência e proteção de direitos no desenvolvimento e aplicação dessa tecnologia.
O projeto estabelece fundamentos como a centralidade da pessoa humana, respeito aos direitos humanos, igualdade, não discriminação, e proteção de dados pessoais.
Vejamos:
“Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais de caráter nacional para o desenvolvimento, implementação e uso responsável de sistemas de inteligência artificial (IA) no Brasil, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais e garantir a implementação de sistemas seguros e confiáveis, em benefício da pessoa humana, do regime democrático e do desenvolvimento científico e tecnológico.
Art. 2º O desenvolvimento, a implementação e o uso de sistemas
de inteligência artificial no Brasil têm como fundamentos:
I – a centralidade da pessoa humana;
II – o respeito aos direitos humanos e aos valores democráticos;
III – o livre desenvolvimento da personalidade;
IV – a proteção ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável;
V – a igualdade, a não discriminação, a pluralidade e o respeito aos direitos trabalhistas;
VI – o desenvolvimento tecnológico e a inovação;
VII – a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor;
VIII – a privacidade, a proteção de dados e a autodeterminação informativa;
IX – a promoção da pesquisa e do desenvolvimento com a finalidade de estimular a inovação nos setores produtivos e no poder público; e
X – o acesso à informação e à educação, e a conscientização sobre
os sistemas de inteligência artificial e suas aplicações.”
Além disso, o PL também apresenta definições importantes para sistemas de inteligência artificial, seus fornecedores, operadores e agentes. (Art. 4º, PL 2338/2023).
No entanto, a parte vital da possível nova lei reside na estipulação dos direitos dos atingidos pela inteligência artificial (Capítulo II, PL 2338/2023) e na categorização dos riscos (Capítulo III, PL 2338/2023).
Por exemplo, sistemas de IA que influenciam decisões críticas jurídicas devem oferecer explicações claras e acesso a revisões humanas (Arts. 9º e 10, PL 2338/2023).
O PL também define os papéis dos “agentes de IA”, que incluem desenvolvedores e operadores de sistemas, estipulando certas obrigações, como análises descritivas de riscos, e responsabilizando-os por danos causados por suas aplicações (Capítulos IV e V, PL 2338/2023).
O que pode mudar com a sanção do PL 2338/2023?
Se sancionado, o PL trará maior segurança jurídica para o uso da IA, tanto para empresas quanto para consumidores.
Isso pode fomentar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras no Brasil, atraindo investimentos e colocando o país no mapa da inteligência artificial global.
Por outro lado, a regulamentação também demandará que as empresas que já vendem produtos de IA adaptem seus processos para cumprir critérios de transparência, prevenção de vieses e proteção de dados.
Isso significa que advogados que atuam em compliance e direito digital terão um papel crucial na orientação de empresas para adequação às novas exigências.
Como a Inteligência Artificial pode auxiliar na advocacia? [Resumo]
PL 2338/2023: Principais pontos
Aqui estão alguns dos principais pontos trabalhados no PL 2338/2023:
- Direitos dos afetados por IA: Garantias como o direito à explicação de decisões automatizadas e à contestação dessas decisões (Arts. 9º, 10 e 11, PL 2338/2023);
- Classificação de risco: Sistemas de IA são categorizados em níveis de risco, como alto risco e risco excessivo. Aplicações de alto risco, como diagnósticos médicos ou decisões judiciais, terão medidas de governança mais rígidas (Capítulo III, PL 2338/2023);
É relevante destacar que, apesar de essa categorização de riscos remeter à AI Act implementada pela União Europeia em 2021, essas classificações são significativamente distintas.
Enquanto a AI Act aborda uma divisão extensa que possui 4 níveis (mínimo, limitado, alto e inaceitável), permitindo que as definições dos sistemas de IA sejam abordadas mais claramente e suas responsabilidades sejam melhor delimitadas.
O PL 2338/2023 se limita a dividir os riscos das Inteligências Artificiais em duas categorias (excessivo e alto), o que restringe uma regulamentação minuciosa de cada tipo de IA.
- Responsabilidade civil: Provedores e operadores serão responsabilizados por danos causados, com regras mais severas para sistemas de alto risco (Arts. 27, 28 e 29, PL 2338/2023);
- Governança e transparência: Medidas obrigatórias para mitigar vieses, garantir segurança e explicar decisões aos usuários (Capítulos IV e VI, PL 2338/2023);
- Sandbox regulatório: Ambientes controlados para testar novas aplicações de IA com menor risco regulatório e promover uma implementação saudável de inovações (Seção III, Capítulo VIII, PL 2338/2023).
Quando será votada a PL 2338/2023?
Atualmente, o PL 2338/2023 está em trâmite no Congresso Nacional e a próxima votação está definida para o dia 10 de dezembro de 2024.
Qual a importância da regulamentação da IA no Brasil?
A regulamentação é essencial para equilibrar inovação com a proteção de direitos fundamentais.
Sem um marco legal, o Brasil corre o risco de ver a tecnologia avançar de forma descontrolada, resultando em violações de privacidade, discriminação algorítmica e outros problemas éticos.
A proposta do PL 2338/2023, promove o desenvolvimento responsável da tecnologia, garante transparência, previne danos e assegura responsabilidade de desenvolvedores e operadores.
Além disso, a vigência de uma regulamentação adequada representa um importante passo para desmistificar os preconceitos em torno do uso das IAs e promover uma maior acessibilidade a esses sistemas.
Para advogados, o PL cria um campo de atuação robusto, envolvendo questões de compliance, contratos, e direitos dos consumidores.
Nesse contexto, o Brasil pode se destacar como líder global ao priorizar soluções inclusivas e alinhadas aos direitos humanos, criando um ecossistema inovador e ético para a IA.
Riscos da Inteligência Artificial para advogados: Quais são?
Marco Legal da Inteligência Artificial: Quais suas implicações a longo prazo?
O Marco Legal da IA tem implicações transformadoras para o Brasil.
A longo prazo, ele pode atrair investimentos ao oferecer segurança jurídica para empresas e proteger os direitos dos usuários de IA.
A exigência de avaliações de impacto algorítmico em sistemas de alto risco fortalece a transparência e a confiabilidade, ademais a garantia da responsabilização civil por possíveis conflitos é algo que garante uma proteção significativa aos usuários.
No entanto, sua eficácia dependerá da capacidade de balancear o rigor regulatório com a promoção da inovação. Regulamentações excessivamente rígidas podem sufocar startups e inibir investimentos, enquanto regras flexíveis demais podem deixar lacunas legais perigosas.
Isso porque as medidas de avaliação de riscos e governança demandam esforços significativos para implementação prática, o que pode atrapalhar o desenvolvimento comercial de pequenas empresas devido a altos custos.
Por fim, também há uma relevante discussão em torno da autoridade competente pela fiscalização da aplicação da lei, sendo que há uma cisão entre a criação de uma nova autoridade e a atribuição das funções elencadas (Seção I, Capítulo VIII, PL 2338/2023) à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
O futuro da IA no Brasil
O PL 2338/2023 representa um passo decisivo para moldar o uso da inteligência artificial no Brasil.
Ao regulamentar a tecnologia, o país promove inovação segura e protege os direitos de seus cidadãos.
Para advogados, isso abre um campo vasto de oportunidades e desafios no direito digital.
O futuro da IA no Brasil será definido pelo equilíbrio entre progresso tecnológico e responsabilidade social.
Referências:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/157233