O regime de participação final nos aquestos é uma das modalidades previstas no Código Civil brasileiro para regular a divisão de bens em um casamento ou união estável.
Trata-se de uma opção que combina aspectos de outros regimes patrimoniais, como a separação total e a comunhão parcial de bens, oferecendo flexibilidade e segurança patrimonial para os cônjuges.
Neste artigo, explicaremos o conceito, as características, as regras e o passo a passo da ação de partilha no regime de participação final nos aquestos, além de dicas práticas para advogados que atuam na área do Direito de Família.
O que é Participação Final nos Aquestos?
A participação final nos aquestos é um regime híbrido que, durante o casamento, funciona de forma semelhante à separação total de bens.
Nesse período, cada cônjuge mantém a administração, posse e propriedade exclusiva de seus bens adquiridos antes ou durante o casamento.
No entanto, em caso de dissolução da sociedade conjugal, seja por divórcio ou morte, os bens adquiridos a título oneroso durante o casamento (os aquestos) são divididos de forma igualitária entre os cônjuges.
Esse regime está regulamentado nos artigos 1.672 a 1.686 do Código Civil e se aplica apenas mediante pacto antenupcial.
Guia Completo do Arrolamento de Bens no CPC
O que são Aquestos?
Aquestos são os bens adquiridos de forma onerosa durante o casamento. Exemplos incluem:
- Imóveis comprados com recursos próprios de um ou ambos os cônjuges durante o casamento;
- Veículos adquiridos em conjunto;
- Rendimentos de investimentos ou aplicações feitas no período conjugal, desde que onerosas.
Bens recebidos por herança, doação ou anteriores ao casamento não são considerados aquestos.
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Quais são as principais características da Participação Final nos Aquestos?
- Independência na Administração dos Bens: cada cônjuge pode administrar seus bens livremente durante o casamento, sem a necessidade de autorização do outro.
- Partilha na Dissolução: apenas os bens adquiridos onerosamente durante o casamento são considerados para a partilha. Bens recebidos por doação ou herança permanecem de propriedade exclusiva de cada cônjuge.
- Pacto Antenupcial Obrigatório: a escolha deste regime deve ser formalizada em um pacto antenupcial, feito por escritura pública.
- Regime Flexível: combina aspectos de proteção patrimonial e partilha de bens, sendo ideal para casais que desejam autonomia durante o casamento, mas equidade na dissolução.
Quais são as regras de partilha no Regime de Participação Final nos Aquestos?
Em caso de dissolução do casamento, o regime prevê as seguintes regras:
- Os aquestos são apurados e divididos de forma igualitária;
- Cada cônjuge tem direito à metade dos bens adquiridos onerosamente, independentemente de quem os tenha adquirido;
- Dívidas contraídas em benefício do casal são consideradas para apuração dos aquestos.
Por exemplo, se um imóvel foi comprado durante o casamento, ele será partilhado, mesmo que registrado em nome de apenas um dos cônjuges.
Quais são as vantagens e desvantagens do Regime de Participação Final nos Aquestos?
Vantagens:
- Proteção do patrimônio individual adquirido antes do casamento;
- Garantia de divisão equitativa dos bens adquiridos conjuntamente;
- Redução de conflitos patrimoniais em caso de dissolução.
Desvantagens:
- Complexidade na apuração dos aquestos, especialmente quando há bens mistos (adquiridos com recursos anteriores e posteriores ao casamento);
- Necessidade de um pacto antenupcial formal, que pode gerar custos adicionais;
- Dificuldade em lidar com dívidas contraídas durante o casamento, que também podem ser partilhadas.
Ação de partilha no regime de Participação Final nos Aquestos: Passo a passo para advogados
Quando o casamento é dissolvido e os cônjuges não chegam a um acordo sobre a divisão dos aquestos, é possível ingressar com uma ação de partilha.
Esse processo exige planejamento e atenção aos detalhes jurídicos e probatórios. Veja abaixo o passo a passo para orientar seus clientes:
Análise inicial do caso
Antes de qualquer ação, analise os bens adquiridos durante o casamento e determine quais podem ser classificados como aquestos.
Explique ao cliente que os aquestos compreendem bens adquiridos a título oneroso durante a união, excluindo heranças, doações ou bens de uso pessoal.
Preparação e coleta de documentos
Solicite ao cliente toda a documentação que comprove a aquisição dos bens relevantes, como escrituras, contratos, notas fiscais e comprovantes de pagamento.
Esses documentos são fundamentais para demonstrar a origem e a natureza onerosa dos bens.
Elaboração da Petição Inicial
Na petição inicial, inclua:
- Relação detalhada dos bens a serem partilhados;
- Comprovações documentais da natureza dos bens;
- Pedido para que o juiz determine a apuração dos aquestos e sua avaliação de mercado.
Cálculo e avaliação dos Aquestos
Durante o processo, o juiz poderá solicitar a realização de perícia para determinar:
- Quais bens efetivamente compõem os aquestos;
- O valor de mercado atualizado de cada bem.
Nesse momento, é essencial acompanhar de perto a avaliação, garantindo que os interesses do cliente sejam preservados.
Audiência de Conciliação
Antes da decisão final, é possível que o juiz designe uma audiência de conciliação. Incentive o cliente a buscar um acordo, pois isso pode agilizar o processo e evitar litígios prolongados.
Decisão Judicial
Caso não haja acordo, o juiz determinará a partilha dos bens. Em regra, a divisão será igualitária.
No entanto, a comprovação de situações específicas (como desproporção na contribuição financeira ou existência de dívidas contraídas por apenas um cônjuge) pode alterar essa proporção.
Cumprimento da Sentença
Após a decisão final, oriente o cliente sobre os trâmites para registrar a partilha e efetivar a transferência dos bens, se necessário.
Esse passo a passo permite uma condução clara e técnica da ação de partilha, protegendo os direitos do cliente e garantindo que a divisão dos aquestos seja realizada de forma justa e dentro dos parâmetros legais.

Participação Final nos Aquestos: Dicas práticas para advogados
Ao orientar seus clientes em ações de partilha no regime de participação final nos aquestos, é essencial adotar estratégias que evitem conflitos desnecessários e garantam uma condução eficiente do processo.
Veja a seguir dicas práticas para atuar com mais segurança jurídica.
Oriente sobre o Pacto Antenupcial
Antes do casamento, explique aos clientes a importância de um pacto antenupcial bem detalhado. Um pacto claro e objetivo pode evitar litígios no futuro.
Este documento pode prever situações específicas, como a forma de partilha de certos bens ou exceções à regra de divisão igualitária.
Dica prática: Insira cláusulas personalizadas para atender às necessidades do casal, detalhando a classificação dos bens e prevendo soluções para disputas comuns.
Incentive a organização da documentação
Oriente seus clientes a manter registros organizados de todos os bens adquiridos durante o casamento. Esses documentos devem incluir contratos de compra, recibos, comprovantes de pagamento e, se possível, laudos de avaliação dos bens.
A comprovação da origem e da natureza onerosa ou gratuita dos bens é fundamental para a correta apuração dos aquestos.
Dica prática: Durante o atendimento, crie um checklist com a documentação necessária e oriente os clientes sobre como preservá-la ao longo do casamento.
Busque a negociação amigável
Sempre que possível, incentive a negociação, mediação ou conciliação. Resolver questões patrimoniais de forma amigável reduz custos, tempo e desgastes emocionais para ambas as partes.
Dica prática: Utilize ferramentas como a mediação extrajudicial ou a arbitragem para casos em que o conflito pode ser resolvido sem intervenção judicial.
Considere consultoria tributária
Avalie as implicações fiscais da partilha de bens, especialmente em situações que envolvam grandes patrimônios ou bens com alta valorização.
Questões como ITCMD, imposto sobre ganho de capital e regularização de bens imóveis devem ser analisadas com cuidado.
Dica prática: Trabalhe em parceria com contadores ou especialistas tributários para garantir que a divisão patrimonial seja feita de forma fiscalmente vantajosa e regularizada.
Acompanhe o processo com proatividade
Mantenha o cliente informado sobre cada etapa do processo, explicando as decisões judiciais e as providências necessárias.
Dica prática: Antecipe possíveis complicações e prepare estratégias para contorná-las, como provas adicionais, perícias ou pareceres técnicos.
Com essas práticas, é possível conduzir ações de partilha de forma mais eficaz, protegendo os interesses do cliente e reduzindo o impacto de disputas patrimoniais.
O papel do advogado na Participação Final nos Aquestos
A participação final nos aquestos é um regime patrimonial que equilibra autonomia e equidade, adaptando-se às necessidades de casais que valorizam independência financeira durante o casamento e uma divisão justa em caso de dissolução.
Combinando características da separação total e da comunhão parcial de bens, ele oferece uma solução flexível e segura para a gestão do patrimônio conjugal.
Para advogados, compreender as nuances desse regime é essencial, pois ele demanda habilidades específicas, desde a elaboração de pactos antenupciais até a condução de ações de partilha.
O conhecimento técnico e a prática de estratégias preventivas e resolutivas, como a organização documental, a mediação de conflitos e a análise tributária, são diferenciais fundamentais para garantir a proteção dos interesses dos clientes e uma condução eficiente dos processos judiciais.
Assim, atuar com expertise nesse campo permite não apenas oferecer um serviço jurídico de excelência, mas também promover segurança e tranquilidade em momentos decisivos da vida patrimonial dos cônjuges.
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