Usucapião Extraordinária: Requisitos, procedimentos e dicas práticas

20 dez, 2024
Um advogado trabalhando em uma ação de usucapião extraordinária.

A usucapião extraordinária é uma modalidade de aquisição de propriedade que se destaca por não exigir boa-fé ou justo título por parte do possuidor. 

Prevista no art. 1.238 do Código Civil, ela é fundamentada no exercício prolongado da posse, independentemente de qualquer justificativa formal, como contrato ou registro prévio.

Este artigo aborda os principais aspectos da usucapião extraordinária, incluindo seus requisitos, prazos, e as etapas para advogados que desejam atuar nesse tipo de processo. Confira!

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O que é a usucapião extraordinária?

A usucapião extraordinária é um mecanismo jurídico que permite a aquisição da propriedade pela posse prolongada de um imóvel, desde que cumpridos os requisitos legais.

Essa modalidade independe de elementos como boa-fé ou justo título, sendo suficiente a comprovação da posse ininterrupta, pacífica e com animus domini (intenção de dono).

A usucapião extraordinária reflete a função social da propriedade, ao consolidar na esfera jurídica situações em que o possuidor exerce, de forma efetiva, o domínio sobre o bem por um longo período.

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Usucapião extraordinária requisitos 

Para que a usucapião extraordinária seja reconhecida, é necessário atender aos seguintes requisitos:

  • Posse contínua e pacífica: A posse deve ser exercida sem interrupções e sem oposição de terceiros.
  • Prazo mínimo de 15 anos: A posse deve ser mantida por, no mínimo, 15 anos, conforme o art. 1.238 do Código Civil.
  • Animus domini: O possuidor deve atuar como se fosse o proprietário do imóvel, exercendo direitos como moradia, manutenção e melhoria do bem.
  • Não exigência de justo título ou boa-fé: Diferentemente de outras modalidades de usucapião, não é necessário comprovar boa-fé ou apresentar documentos formais que justifiquem a posse.

Redução do prazo para 10 anos

Base Legal:

Art. 1.238, CC. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

Conforme o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, o prazo para usucapião extraordinária pode ser reduzido para 10 anos quando o possuidor comprovar:

  • Ter estabelecido sua moradia habitual no imóvel, ou;
  • Ter realizado investimentos de caráter produtivo, como a exploração econômica do bem.

Essa redução visa estimular o uso efetivo da propriedade para moradia ou produção.

Documentos necessários para usucapião extraordinária

Os documentos necessários para a usucapião extraordinária incluem os seguintes itens:

Documentos pessoais do requerente:

  • RG e CPF.
  • Certidão de casamento, se aplicável.
  • Comprovante de endereço atualizado.

Documentos do imóvel:

  • Planta e memorial descritivo assinados por um profissional habilitado (engenheiro ou arquiteto) com ART ou RRT.
  • Certidão negativa de ônus reais e ações judiciais do imóvel.
  • Registro de imóveis atualizado, mesmo que conste outra titularidade.

Comprovação da posse contínua e ininterrupta:

  • Contratos, recibos ou comprovantes que mostrem a posse do imóvel (contas de água, luz, IPTU, entre outros).
  • Declarações de vizinhos ou moradores da região, preferencialmente com firma reconhecida, atestando a posse pelo prazo exigido (15 anos ou 10 anos com benfeitorias ou moradia habitual).

Declarações e certidões complementares:

  • Declaração de que não há litígios envolvendo o imóvel.
  • Certidões negativas de débitos municipais, estaduais e federais.

Provas documentais e fotográficas:

  • Fotografias do imóvel que demonstrem a ocupação e benfeitorias realizadas.
  • Outros documentos que reforcem a prova de posse.

Esses documentos são apresentados junto ao pedido de usucapião na via judicial ou extrajudicial, dependendo da situação. 

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Etapas do processo de usucapião extraordinária

Veja a seguir as principais etapas do processo de usucapião extraordinária.

Levantamento de provas

O possuidor deve reunir provas que demonstrem o exercício contínuo da posse, como:

  • Contas de água e luz;
  • Documentos fiscais e administrativos;
  • Fotografias do imóvel;
  • Declarações de vizinhos ou testemunhas.

Ação judicial ou processo extrajudicial

A usucapião extraordinária pode ser realizada:

  • Judicialmente, mediante ação proposta no juízo competente;
  • Extrajudicialmente, em cartório, quando houver concordância dos confrontantes e ausência de litígios.

Intimação dos interessados

Na via judicial, o juiz determinará a notificação do proprietário registrado, dos vizinhos (confrontantes) e de órgãos públicos, como a prefeitura.

Decisão final

Após análise das provas, o juiz (ou o oficial do cartório, na via extrajudicial) poderá reconhecer o direito à usucapião extraordinária, autorizando o registro da propriedade em nome do possuidor.

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Diferença entre usucapião extraordinária e outras modalidades

Prazo: A usucapião extraordinária exige o maior prazo de posse (15 anos, com possibilidade de redução para 10 anos).

Requisitos Subjetivos: Não exige boa-fé ou justo título, diferentemente da usucapião ordinária.

Flexibilidade: É aplicável em casos de posse irregular ou ocupação prolongada sem documentação formal.

Usucapião extraordinária: Dicas práticas para advogados

Confira a seguir dicas essenciais para advogados que atuam em ações de usucapião extraordinária. 

Organize as provas

Reúna e sistematize toda a documentação e os elementos que comprovem a posse contínua, mansa e pacífica. Oriente o cliente a fornecer:

  • Registros fotográficos do uso e conservação do imóvel;
  • Comprovantes de despesas como contas de água, luz ou IPTU;
  • Registros de benfeitorias realizadas no imóvel;
  • Depoimentos de testemunhas que possam atestar a posse ao longo do tempo.

Uma boa organização das provas aumenta as chances de êxito no processo.

Verifique confrontantes

Identifique quem são os proprietários e vizinhos que podem ser afetados pela ação. 

Verifique também se há algum histórico de conflito e, sempre que possível:

  • Busque acordos prévios para minimizar impasses;
  • Solicite declarações assinadas pelos confrontantes reconhecendo a posse do cliente;
  • Certifique-se de que não há sobreposição de registros de propriedade.

Opte pela via extrajudicial, quando viável

Sempre que o caso não envolver litígios ou objeções, considere iniciar o processo pela via administrativa, que pode ser concluída em cartório. As vantagens incluem:

  • Celeridade: A tramitação é geralmente mais rápida do que no Judiciário;
  • Custo reduzido: Evita as despesas processuais e honorários de perícias judiciais.
    Verifique a legislação estadual e os requisitos específicos para a usucapião extrajudicial no local.

Atenção ao prazo reduzido

A lei permite a redução do prazo de 15 para 10 anos quando o possuidor comprovar:

  • Que reside no imóvel ou;
  • Que realizou investimentos significativos, como construções ou benfeitorias duradouras.

Avalie se o cliente se enquadra nessas condições, pois isso pode agilizar o reconhecimento do direito à propriedade.

Utilize tecnologia jurídica

Faça uso de ferramentas especializadas para tornar a gestão do caso mais eficiente. Softwares jurídicos podem ajudar a:

  • Gerenciar documentos e evidências;
  • Controlar prazos processuais e etapas do procedimento;
  • Automatizar a elaboração de petições e relatórios.

O uso da tecnologia não apenas otimiza o tempo, mas também reduz a chance de erros no processo.

A importância da usucapião extraordinária na função social da propriedade

A usucapião extraordinária é um instrumento jurídico poderoso para regularizar situações de posse prolongada, consolidando o direito à propriedade e promovendo a função social dos bens imóveis. 

Sua principal característica é a ausência de exigência de boa-fé ou justo título, o que a torna especialmente acessível em casos de posse irregular.

Para advogados, dominar os aspectos técnicos e práticos desse tipo de usucapião é essencial, sobretudo em relação à organização de provas, à análise dos requisitos legais e à escolha entre as vias judicial e extrajudicial. 

Essas estratégias não apenas aumentam as chances de êxito no processo, mas também contribuem para uma atuação eficiente e alinhada às necessidades do cliente.

Assim, o aprofundamento no tema e a adoção de práticas jurídicas atualizadas são diferenciais importantes para os profissionais que desejam atuar com excelência em ações de usucapião extraordinária.

Confira nosso artigo sobre Alegações Finais no CPC: O que é e como fazer?

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Sobre o autor

Micaela Sanches

Micaela Sanches

Bacharel em Direito, com especializações em Comunicação e Jornalismo, além de Direito Ambiental e Direito Administrativo. Graduanda em Publicidade e Propaganda, uma das minhas paixões. Amo escrever e aprender sobre diversos assuntos.

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