Usucapião Coletiva: O que é, como funciona e quais são os requisitos?

19 dez, 2024
Um advogado redigindo uma ação de usucapião coletiva.

A usucapião coletiva é uma modalidade jurídica que permite a regularização fundiária de áreas ocupadas por comunidades de baixa renda. 

Regulamentada pelo art. 10 da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) e complementada pelo art. 1.228, §§4º e 5º do Código Civil, a usucapião coletiva é uma ferramenta essencial para promover a função social da propriedade, garantindo o direito à moradia e a segurança jurídica dos ocupantes.

Neste artigo, exploramos os conceitos, requisitos, etapas e aspectos práticos dessa modalidade. Acompanhe! 

Adjudicação Compulsória: O que é e quais são os requisitos?

O que é a usucapião coletiva?

A usucapião coletiva é uma forma de aquisição da propriedade destinada a comunidades que ocupam áreas urbanas para fins de moradia

Diferentemente de outras modalidades, essa ferramenta jurídica abrange uma coletividade, atribuindo a cada indivíduo uma fração ideal do imóvel ocupado, sem necessidade de delimitação física.

O principal objetivo da usucapião coletiva é a regularização fundiária de áreas urbanas ocupadas por populações de baixa renda, promovendo o direito à moradia e o uso adequado do solo urbano.

A usucapião coletiva possui previsão legal nos seguintes dispositivos, confira:

Art. 10 da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade). Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.     

Art. 1.228 do Código Civil. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.(…)

§ 4 o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.

§ 5 o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.

Usucapião Extrajudicial: Como funciona e quais são os requisitos?

Quais são os requisitos da usucapião coletiva?

Para que a usucapião coletiva seja reconhecida, é necessário cumprir os seguintes requisitos:

  • Área Urbana: O imóvel deve estar localizado em zona urbana, conforme definição do plano diretor municipal.
  • Posse Contínua e Pacífica: A comunidade deve comprovar o uso ininterrupto e sem oposição por 5 anos.
  • Finalidade Habitacional: A ocupação deve ser destinada exclusivamente à moradia.
  • Ausência de propriedade: Os beneficiários não podem ser proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
  • Área com até  250 m² por possuidor: A área ocupada deve resultar em frações inferiores a 250 m² por possuidor. 
  • Função Social da Propriedade: A posse deve atender ao princípio da função social, que é um dos pilares do Estatuto da Cidade.

Como funciona o procedimento da usucapião coletiva?

O processo de usucapião coletiva pode ser realizado por meio de ação judicial ou, em casos mais simples, por procedimento extrajudicial

Confira as etapas:

Reunião de documentos:

  • Planta e memorial descritivo da área.
  • Comprovantes de ocupação contínua por 5 anos.
  • Declaração de que os beneficiários não possuem outros imóveis.

Análise da ocupação:

  • Verificação de que a ocupação atende aos requisitos de baixa renda e moradia.
  • Certificação de que a posse é pacífica e não enfrenta litígios.

Demarcação e Registro:

  • Em caso de aprovação judicial ou extrajudicial, a área é registrada em nome da coletividade, atribuindo-se frações ideais aos beneficiários.

Regularização Fundiária:

  • Após o registro, a comunidade obtém o título de propriedade e pode realizar melhorias ou buscar financiamento para infraestrutura.

Diferenças entre usucapião coletiva e individual

AspectoUsucapião IndividualUsucapião Coletiva
FinalidadeRegularizar um imóvel por pessoa.Regularizar áreas ocupadas coletivamente.
Área MínimaNos outros tipos (ordinária e extraordinária), geralmente não há limite.A metragem não pode ultrapassar 250 m² por possuidor. 
BeneficiáriosApenas um possuidor.Uma coletividade de baixa renda.
Propriedade FinalPlena e individual.Fração ideal para cada ocupante.

Quanto tempo leva para regularizar a usucapião coletiva?

O prazo para a conclusão do processo depende da modalidade escolhida:

Judicial: Pode levar anos, especialmente em áreas com disputas ou documentação incompleta.

Extrajudicial: Geralmente é mais rápido, com duração média de 6 meses a 1 ano, caso os requisitos estejam devidamente cumpridos.

Uma maquete simbolizando uma ação de usucapião coletiva.

Usucapião coletiva: Dicas práticas para advogados

A usucapião coletiva é um instrumento jurídico importante para regularizar a posse de áreas urbanas ocupadas coletivamente, garantindo o direito à moradia para comunidades. 

O processo exige atenção a detalhes técnicos e legais, além de estratégias eficazes para garantir o êxito. 

Confira as principais dicas práticas para advogados que atuam nessa área:

Identifique os requisitos locais: verifique a legislação municipal e o plano diretor para confirmar a classificação da área como urbana. Essas informações são essenciais para enquadrar o caso como usucapião coletiva.

Reúna provas consistentes: certifique-se de coletar documentos que comprovem a posse coletiva e o uso da área para moradia. Registros fotográficos, declarações de moradores e comprovantes de pagamento de impostos podem ser úteis.

Estabeleça o diálogo com o município: muitos casos de usucapião coletiva envolvem áreas públicas ou de interesse social. Estabeleça contato com órgãos locais, como prefeituras e secretarias de habitação, para facilitar o processo e evitar conflitos.

Considere o procedimento extrajudicial: se todos os confrontantes estiverem de acordo, priorize o caminho extrajudicial para economizar tempo e custos. Essa opção também tende a ser menos burocrática.

Acompanhe o registro de imóveis: o registro da usucapião é fundamental para consolidar o direito de propriedade. Certifique-se de que todas as etapas do processo foram cumpridas para garantir a regularização definitiva.

Promova a organização comunitária: Incentive os moradores a se organizarem em associações ou grupos representativos. Essa organização facilita a comunicação, agiliza a coleta de documentos e fortalece o caso perante os órgãos competentes.

Verifique a existência de conflitos fundiários: identifique eventuais conflitos relacionados à posse da área, como disputas com proprietários anteriores ou reivindicações de terceiros. A resolução desses conflitos é fundamental para o sucesso do processo.

Mantenha-se atualizado sobre a jurisprudência: acompanhe decisões recentes dos tribunais sobre usucapião coletiva. A jurisprudência pode oferecer insights valiosos para fortalecer sua argumentação jurídica.

Oriente sobre a sustentabilidade pós-processo: após a regularização, oriente os moradores sobre a importância de manter os registros atualizados, pagar tributos e preservar a área regularizada. Isso garante a continuidade do direito à propriedade.

Essas dicas ajudarão advogados a conduzir processos de usucapião coletiva com mais segurança e eficiência, contribuindo para a garantia de direitos fundamentais.

Usucapião Extraordinária: Requisitos, procedimentos e dicas práticas

Usucapião coletiva: Solução jurídica para garantir moradia e direitos sociais

A usucapião coletiva é um instrumento jurídico de grande relevância para promover a regularização fundiária e assegurar o direito à moradia em comunidades de baixa renda. 

Por meio de requisitos claros e processos bem definidos, essa modalidade reforça a função social da propriedade e contribui para a organização e desenvolvimento de áreas urbanas ocupadas coletivamente.

Para advogados e demais profissionais envolvidos, o sucesso nesse tipo de procedimento depende de uma abordagem estratégica, com atenção às exigências legais, organização comunitária e diálogo com as autoridades competentes. 

Além disso, a possibilidade de optar pelo caminho extrajudicial pode agilizar o processo e reduzir custos, beneficiando diretamente as comunidades.

Por fim, ao consolidar a propriedade por meio da usucapião coletiva, promove-se não apenas a segurança jurídica dos ocupantes, mas também o fortalecimento de valores sociais e urbanos fundamentais. 

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Sobre o autor

Micaela Sanches

Micaela Sanches

Bacharel em Direito, com especializações em Comunicação e Jornalismo, além de Direito Ambiental e Direito Administrativo. Graduanda em Publicidade e Propaganda, uma das minhas paixões. Amo escrever e aprender sobre diversos assuntos.

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