Alienação Fiduciária: Como funciona e quais são as regras?

18 dez, 2024
Um advogado apertando a mão do seu cliente em acordo para uma ação de alienação fiduciária.

A alienação fiduciária é uma modalidade de garantia amplamente utilizada em contratos financeiros, especialmente em financiamentos de veículos e imóveis.   

Trata-se de um instrumento jurídico que assegura ao credor a posse indireta de um bem enquanto a dívida não é quitada, oferecendo proteção tanto ao credor quanto ao devedor.

Neste artigo, você entenderá como a alienação fiduciária funciona, suas principais regras e os aspectos legais. Acompanhe!

Penhora de bens [Art. 835 do CPC]: Como funciona?

O que é alienação fiduciária?

Alienação fiduciária é um contrato de garantia previsto pela Lei nº 9.514/1997, onde o devedor (fiduciante) transfere ao credor (fiduciário) a propriedade resolúvel de um bem como forma de assegurar o pagamento de uma dívida. 

A posse direta permanece com o devedor, que pode utilizar o bem normalmente, enquanto o credor detém a posse indireta e a propriedade resolúvel, até que a dívida seja quitada.

Após o pagamento integral da dívida, o credor devolve a propriedade ao devedor. 

Caso contrário, o credor pode executar a garantia, consolidando a propriedade do bem em seu nome para fins de alienação ou leilão.

Adjudicação: Como funciona e regras gerais

Como funciona a alienação fiduciária?

O funcionamento da alienação fiduciária segue etapas definidas por lei:

Contrato de alienação fiduciária:

  • Deve ser firmado por meio de escritura pública ou contrato registrado no cartório de registro de imóveis, ou no Detran (em caso de veículos).
  • Contém as condições do financiamento, o valor financiado, taxas, e a cláusula de garantia.

Posse e propriedade:

  • Devedor (fiduciante): mantém a posse direta do bem e pode usá-lo conforme o contrato.
  • Credor (fiduciário): detém a propriedade resolúvel, podendo consolidá-la caso ocorra inadimplência.

Inadimplemento: se o devedor não cumprir a obrigação, o credor poderá iniciar o procedimento de consolidação da propriedade. Para imóveis, isso envolve notificação prévia ao devedor, que terá um prazo de 15 dias para regularizar o débito.

Quitação da dívida ou venda do bem: com o pagamento integral, a propriedade é restituída ao devedor de forma automática ou mediante procedimento administrativo. Já em caso de consolidação da propriedade, o credor deve vender o bem em leilão. O valor arrecadado será usado para quitar a dívida, e qualquer excedente será devolvido ao devedor.

Quais são as regras da alienação fiduciária?

A alienação fiduciária no Brasil é regulamentada pela Lei nº 9.514/1997, no caso de bens imóveis, e pelo Código Civil nos artigos 1.361 a 1.368-B. 

As principais regras incluem:

  • Obrigatoriedade de registro: a alienação fiduciária deve ser registrada no cartório de registro de imóveis (para imóveis) ou no órgão de trânsito competente (para veículos).
  • Direitos do credor: o credor pode exigir a execução da garantia em caso de inadimplência, consolidando a propriedade do bem.
  • Deveres do devedor: manter os pagamentos em dia e preservar o bem nas condições estipuladas pelo contrato.
  • Procedimentos de consolidação da propriedade: no caso de imóveis, é necessário notificar o devedor e realizar um leilão público, respeitando prazos e regras estabelecidas pela lei.
  • Execução extrajudicial: a alienação fiduciária permite a execução extrajudicial da garantia, tornando o processo mais rápido e menos oneroso para o credor.

Exemplo Prático

Imagine que um cliente financia um imóvel no valor de R$ 500 mil com alienação fiduciária. 

Ele continua morando no imóvel e utilizando-o, mas a propriedade legal do bem pertence ao banco até a quitação completa do financiamento. 

Em caso de inadimplência, o banco pode consolidar a propriedade e vender o imóvel em leilão.

Vantagens da alienação fiduciária e considerações

Vantagens para o Credor:

  • Garantia de recebimento do crédito.
  • Direito de alienação em caso de inadimplência.
  • Agilidade na execução.

Vantagens para o Devedor:

  • Possibilidade de usufruir do bem.
  • Taxas de juros geralmente menores em comparação a outras modalidades de garantia.

Considerações Importantes:

  • O devedor deve analisar as condições contratuais com atenção.
  • A inadimplência pode levar à perda do bem.

Principais dúvidas sobre alienação fiduciária

A morte do devedor extingue o contrato de alienação fiduciária?

Não. A morte do devedor não extingue o contrato de alienação fiduciária, uma vez que as obrigações decorrentes do contrato se transmitem aos herdeiros, respeitando-se os limites das forças da herança. 

Nos termos do art. 1.821 do Código Civil:

Art. 1.821 do CC. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança.

Assim, o credor fiduciário pode requerer o cumprimento da obrigação ou a execução da garantia fiduciária sobre o bem alienado, observando-se as disposições legais aplicáveis à sucessão.

É possível ao devedor transferir a titularidade da dívida para outra pessoa?

Sim, é possível ao devedor transferir a titularidade da dívida para outra pessoa, desde que haja concordância expressa do credor, conforme dispõe o artigo 299 do Código Civil. 

Art. 299 do CC. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.

Esse ato, denominado assunção de dívida, ocorre quando um terceiro assume a posição de devedor, substituindo o devedor original. 

A anuência do credor é indispensável, pois ele tem o direito de avaliar a capacidade e a idoneidade do novo devedor, garantindo a preservação da segurança jurídica e o adimplemento da obrigação.

É permitido vender um bem alienado?

Sim, é permitido vender um bem alienado, mas isso exige cuidados específicos. Um bem alienado, como um veículo financiado ou hipotecado, está vinculado a uma garantia de pagamento ao credor. 

Para realizar a venda, o vendedor precisa quitar a dívida pendente ou transferir a obrigação para o comprador, caso o credor concorde. 

Além disso, a negociação deve ser formalizada, com transparência sobre a situação do bem, para evitar problemas legais e garantir que o comprador esteja ciente das condições envolvidas.

Qual a diferença entre alienação fiduciária e hipoteca?

A principal diferença entre alienação fiduciária e hipoteca está na titularidade do bem e no processo de garantia

Na alienação fiduciária, o devedor transfere a propriedade do bem ao credor como garantia, mantendo apenas a posse direta e recuperando a titularidade ao quitar a dívida. 

Já na hipoteca, o devedor mantém a propriedade e posse do bem, que serve como garantia sem transferência de titularidade. 

Além disso, a execução da garantia na alienação fiduciária é mais rápida e menos burocrática, enquanto na hipoteca exige um processo judicial para a venda do bem em caso de inadimplência.

A estátua da Deusa da Justiça.

Dicas práticas na advocacia sobre contratos de alienação fiduciária

Veja a seguir dicas práticas para advogados que atuam com alienação fiduciária, desde a elaboração contratual até a condução de processos de execução.

Elaboração do contrato

  • Defina as condições: garanta que todas as cláusulas estejam bem detalhadas, incluindo o valor do financiamento, taxas, prazos de pagamento e penalidades em caso de inadimplência.
  • Inclua cláusulas de preservação do bem: é importante prever obrigações específicas para o devedor, como manutenção do bem e a preservação em boas condições.
  • Preveja alternativas em caso de inadimplência: indique de forma explícita os procedimentos para a execução da garantia e a consolidação da propriedade, conforme a Lei nº 9.514/1997.

Registro e formalização

  • Atente-se ao registro obrigatório: verifique se o contrato foi devidamente registrado no cartório de registro de imóveis ou no órgão de trânsito, conforme o bem dado em garantia.
  • Confirme a regularidade do bem: antes de formalizar o contrato, certifique-se de que o bem está livre de ônus e restrições que prejudiquem a execução da garantia.

Execução extrajudicial

  • Cumpra os procedimentos legais: a execução extrajudicial deve seguir as regras estabelecidas pela legislação, especialmente nos casos de imóveis, incluindo:
    • Notificação do devedor para purgar a mora.
    • Respeito o prazo de 15 dias para a regularização.
    • Realização de leilão público após a consolidação da propriedade.
  • Documentação completa: mantenha registros detalhados de todas as notificações, publicações e atos realizados no processo de execução.

Atendimento ao devedor

  • Negociação prévia: antes de iniciar a execução, tente negociar com o devedor. Em muitos casos, é possível chegar a um acordo que evita custos adicionais para ambas as partes.
  • Proteja os direitos do devedor: certifique-se de que o devedor compreende as condições contratuais e os riscos envolvidos na inadimplência. Isso reduz a chance de contestações futuras.

Gestão de riscos

  • Avaliação do bem: oriente seu cliente credor a realizar uma avaliação prévia do bem dado em garantia. Isso ajuda a evitar subvalorização ou complicações durante o leilão.
  • Prevenção de fraudes: em casos de veículos ou bens móveis, atente-se a possíveis alienações ilegais ou transferências não autorizadas pelo devedor.

Aspectos processuais

  • Considere o timing do leilão: certifique-se de que o leilão seja realizado em conformidade com a legislação e em um momento oportuno para maximizar o valor de venda do bem.
  • Fundamente bem as impugnações: caso represente o devedor, analise minuciosamente a regularidade dos atos praticados pelo credor durante a execução extrajudicial.

Monitoramento pós-consolidação

  • Distribuição do valor arrecadado: após a venda do bem em leilão, certifique-se de que eventuais excedentes sejam devolvidos ao devedor, conforme determina a lei.
  • Regularização do registro: após a consolidação, oriente o credor a regularizar a titularidade do bem no cartório ou no órgão competente.

Atualização e estudos

  • Acompanhe alterações legislativas: esteja atento às atualizações na legislação e jurisprudência relacionadas à alienação fiduciária, especialmente em temas como leilões e proteção ao devedor.
  • Invista em capacitação: participe de cursos e palestras sobre contratos de garantia para aprimorar seu conhecimento e oferecer um serviço mais completo aos seus clientes.

Produção ágil de contratos de alienação fiduciária

A alienação fiduciária é uma ferramenta jurídica poderosa que proporciona segurança tanto para credores quanto para devedores. 

Conhecer suas regras e funcionamento é essencial para advogados que atuam em contratos de financiamento e garantias. 

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Perguntas frequentes

O que é alienação fiduciária?
Alienação fiduciária é um contrato de garantia previsto pela Lei nº 9.514/1997, onde o devedor (fiduciante) transfere ao credor (fiduciário) a propriedade resolúvel de um bem como forma de assegurar o pagamento de uma dívida.
A morte do devedor extingue o contrato de alienação fiduciária?
Não. A morte do devedor não extingue o contrato de alienação fiduciária, uma vez que as obrigações decorrentes do contrato se transmitem aos herdeiros, respeitando-se os limites das forças da herança.
É possível ao devedor transferir a titularidade da dívida para outra pessoa?
Sim, é possível ao devedor transferir a titularidade da dívida para outra pessoa, desde que haja concordância expressa do credor, conforme dispõe o artigo 299 do Código Civil.
É permitido vender um bem alienado?
Sim, é permitido vender um bem alienado, mas isso exige cuidados específicos. Um bem alienado, como um veículo financiado ou hipotecado, está vinculado a uma garantia de pagamento ao credor. Para realizar a venda, o vendedor precisa quitar a dívida pendente ou transferir a obrigação para o comprador, caso o credor concorde.

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Sobre o autor

Micaela Sanches

Micaela Sanches

Bacharel em Direito, com especializações em Comunicação e Jornalismo, além de Direito Ambiental e Direito Administrativo. Graduanda em Publicidade e Propaganda, uma das minhas paixões. Amo escrever e aprender sobre diversos assuntos.

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