A pensão vitalícia é uma forma de amparo garantido por lei, voltada a oferecer segurança e estabilidade a pessoas que se encontram em situações específicas, como dependência econômica ou invalidez.
Seja no âmbito familiar, previdenciário ou trabalhista, compreender as nuances desse benefício é essencial para garantir direitos e planejar o futuro com mais tranquilidade.
Neste artigo, exploraremos as diversas facetas da pensão vitalícia. Inicialmente, entenderemos em quais circunstâncias ela é concedida e os diferentes tipos existentes, como a pensão decorrente de divórcio, para filhos com deficiência e a pensão vitalícia trabalhista.
Em seguida, detalharemos como reconhecer se uma pensão por morte é vitalícia, os critérios do INSS, a comprovação de união estável, como agir em caso de negativa e as estratégias diante de relacionamentos simultâneos, com base na jurisprudência.
Para a construção deste artigo, contamos com a valiosa contribuição técnica do advogado Mauro Rodrigues Nunes (OAB/SP 432.775), especialista em Direito de Família, com atuação no estado de São Paulo, cuja experiência enriquece e fundamenta as informações aqui apresentadas.
Confira nosso outro artigo feito com a participação do colaborador Mauro Rodrigues:
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Quando ocorre a pensão vitalícia?
A pensão por morte com caráter vitalício é uma possibilidade prevista em situações específicas, mas não se aplica automaticamente a todos os dependentes do segurado falecido.
O que define a natureza vitalícia do benefício são critérios objetivos, analisados no momento do óbito.
Muitas pessoas ainda têm a falsa impressão de que a pensão por morte será paga por toda a vida, independentemente do perfil do dependente. No entanto, esse entendimento equivocado pode gerar frustrações e conflitos, especialmente em inventários ou disputas previdenciárias.
Para que o benefício seja pago de forma vitalícia, é necessário que o dependente atenda a requisitos específicos, que envolvem, por exemplo, sua idade e a configuração do vínculo de dependência na data do falecimento do segurado.
Ou seja, é essa data do óbito que será considerada como marco para análise das condições exigidas. Caso os critérios não sejam preenchidos, o benefício poderá ser concedido por tempo determinado, conforme cada situação.
Tipos de Pensão Vitalícia
A pensão vitalícia pode ter diferentes naturezas jurídicas, a depender da origem da obrigação — civil, previdenciária ou trabalhista.
Para o advogado, compreender as situações específicas que ensejam esse pagamento contínuo é essencial tanto na atuação contenciosa quanto consultiva.
A seguir, destacamos os principais tipos de pensão vitalícia previstos no ordenamento jurídico brasileiro.
Pensão vitalícia em razão de divórcio
No contexto das relações familiares, a pensão vitalícia pode ser fixada judicialmente quando, com a dissolução do casamento, uma das partes não possui condições de prover sua própria subsistência e atende aos critérios específicos definidos.
Isso costuma ocorrer em uniões duradouras, marcadas por dependência econômica de um dos cônjuges, sendo considerada também a idade e a possibilidade de reinserção no mercado de trabalho.
“Art. 1.694 do Código Civil: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”.
Nesse contexto, a pensão assume caráter alimentar, e pode ser revista, majorada, reduzida ou até extinta, conforme alteração na situação das partes.
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Pensão vitalícia para filhos com deficiência
Há ainda situações em que filhos com incapacidade total e permanente fazem jus a uma pensão vitalícia, seja ela de natureza alimentar ou previdenciária.
A depender da origem (direito de família ou INSS), a comprovação da incapacidade definitiva e da dependência financeira será o elemento-chave para sua concessão.
“Art. 1.695 do Código Civil: São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”.
Nesses casos, a prova pericial médica costuma ser essencial, tanto para a concessão da pensão quanto para a obtenção de benefícios assistenciais, como o BPC/LOAS, quando a família não tem condições de prover o sustento.
Pensão vitalícia trabalhista
No campo do Direito do Trabalho, a pensão vitalícia decorre de danos permanentes causados por acidente de trabalho ou doença ocupacional. Se o trabalhador perde total ou parcialmente sua capacidade laboral, o empregador pode ser condenado a indenizá-lo mensalmente, de forma proporcional ao prejuízo.
“Art. 950 do Código Civil: Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização […] incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu”.
Essa pensão pode ser paga mensalmente ou em parcela única, e o valor será definido com base em fatores como a remuneração habitual, a expectativa de vida e o grau de incapacidade.
Além disso, é possível sua extensão aos dependentes do trabalhador, em caso de óbito decorrente do acidente.
“Art. 121 da Lei nº 8.213/1991 – Os valores correspondentes aos benefícios por acidente do trabalho têm natureza indenizatória, não integrando, para qualquer efeito, o salário de contribuição”.

Como saber se a pensão por morte é vitalícia?
A pensão por morte é um benefício previdenciário que, em regra, possui duração limitada.
Contudo, há situações específicas em que o pagamento se estende de forma vitalícia ao dependente.
Para que isso ocorra, é necessário que sejam preenchidos requisitos legais objetivos, especialmente após as alterações promovidas pela Lei nº 13.135/2015.
A regra geral vigente desde 1º de janeiro de 2021 estabelece que o benefício somente será permanente se, cumulativamente, forem atendidas as seguintes condições:
- O falecido tiver realizado no mínimo 18 contribuições mensais ao INSS;
- O óbito ocorrer após dois anos do início do casamento ou da união estável;
- O dependente tiver 45 anos ou mais na data do falecimento.
Além disso, a pensão pode ser vitalícia independentemente da idade, quando o dependente for pessoa com deficiência grave, intelectual ou mental, ou se estiver inválido no momento do óbito.
Outro aspecto fundamental a ser considerado é o direito adquirido, especialmente nos casos em que o falecimento ocorreu antes das reformas legislativas.
Nestes casos, aplicam-se as regras anteriores à Medida Provisória nº 664/2014, o que pode garantir a vitaliciedade do benefício sem os critérios atualmente exigidos.

Como comprovar a união estável para fins de pensão vitalícia
Quando se trata de requerer a pensão vitalícia, especialmente nos casos de pensão por morte no âmbito previdenciário, a prova da união estável é um dos pontos mais sensíveis e frequentemente judicializados.
Segundo o advogado Mauro Rodrigues, especialista convidado para este artigo, é necessário apresentar uma série de documentos que demonstrem a convivência pública, contínua, duradoura e com o objetivo de constituir família.
A ausência de casamento formal não impede o reconhecimento da relação, mas exige robustez na comprovação.
“Esses documentos podem incluir certidões de nascimento de filhos em comum, declarações de imposto de renda onde um consta como dependente do outro, contas bancárias conjuntas, comprovantes de residência no mesmo endereço, entre outros”, destaca Mauro Rodrigues.
Conforme explica o advogado, também é possível utilizar depoimentos de testemunhas e fotografias do casal, especialmente em situações em que não há registros formais da união.
Essa documentação ganha ainda mais relevância quando o relacionamento era informal ou recente, tornando o convencimento do INSS ou do Judiciário mais desafiador.
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Como proceder quando o INSS nega indevidamente a pensão vitalícia
A negativa do INSS ao pedido de pensão vitalícia, especialmente nos casos de pensão por morte ou benefício assistencial, não é definitiva — e pode ser contestada por vias administrativas e judiciais.
Conforme orienta o advogado Mauro Rodrigues, o primeiro passo é interpor recurso administrativo dentro do prazo legal de 30 dias, contados a partir da ciência da decisão.
“É essencial que, ao recorrer, o segurado ou seu representante legal apresente todos os documentos que comprovem tanto a deficiência quanto a dependência econômica em relação ao falecido”, destaca Mauro.
Ainda segundo o especialista, caso o recurso administrativo seja negado, o caminho seguinte é ajuizar ação judicial contra o INSS, requerendo a concessão da pensão por morte ou do benefício assistencial negado indevidamente.
Essa etapa judicial costuma ser fundamentada em provas técnicas e testemunhais, além de laudos e demais documentos que sustentem o direito do requerente.
Jurisprudências e entendimentos relevantes
A análise jurisprudencial é essencial para compreender como os tribunais vêm interpretando os critérios de concessão da pensão vitalícia, seja no âmbito previdenciário, trabalhista ou assistencial.
Abaixo, destacamos entendimentos recentes que ilustram os limites e possibilidades desse benefício:
Inexistência de incapacidade laboral e indeferimento de pensão mensal vitalícia
O TRT da 2ª Região entendeu pela inviabilidade de concessão da pensão vitalícia a trabalhador acidentado sem comprovação de incapacidade ou redução laboral, reafirmando que o objetivo do benefício é reparar a perda da capacidade de trabalho, conforme o art. 950 do Código Civil:
“Constatado que o trabalhador não apresenta incapacidade laborativa, nem mesmo redução, incabível o pagamento da pensão mensal vitalícia.”
(TRT-2 10009044620205020446 SP, Relator.: BENEDITO VALENTINI, 12ª Turma – Cadeira 4, Data de Publicação: 21/09/2021)
Pensão vitalícia de seringueiros (soldados da borracha) não pode ser acumulada com outro benefício previdenciário
O STJ reforçou o caráter assistencial da pensão especial prevista no art. 3º da Lei nº 7.986/1989, vedando sua acumulação com benefícios do RGPS. A Corte pontuou que a prestação está condicionada à carência econômica do beneficiário:
“A manutenção do pagamento da pensão é incompatível com a existência de outra renda mensal periódica garantidora do sustento familiar.”
(REsp 1945793/AC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 09/11/2021)
Contudo, o beneficiário pode optar pelo benefício mais vantajoso, observando-se o prazo decadencial do art. 103-A da Lei nº 8.213/1991.
Pensão por morte indeferida por não comprovação de união estável anterior ao casamento
O TJSP, em recente julgamento, negou pensão vitalícia a cônjuge que não comprovou a existência de união estável anterior ao casamento, o qual havia sido celebrado menos de dois anos antes do falecimento.
A decisão aplicou a regra do art. 77, § 2º, V, “c”, 6, da Lei nº 8.213/1991, que exige dois anos de convivência para concessão do benefício com duração superior a quatro meses:
“Impossibilidade de pagamento de pensão por morte vitalícia à autora. Sentença reformada[…] Casamento que se iniciou em menos de dois anos da data do óbito do servidor União estável em data anterior ao casamento não suficientemente comprovada para o período exigido – Impossibilidade de pagamento de pensão por morte vitalícia à autora.”
(TJSP, Ap. Cível 1000745-70.2021.8.26.0666, Rel. Des. Luís Francisco Aguilar Cortez, julgado em 23/06/2022)
Projeto de lei prevê pensão vitalícia a pessoas com deficiência decorrente de microcefalia por Zika vírus
Em trâmite avançado no Congresso Nacional, foi aprovado o PL 6064/2023, que concede pensão especial mensal e vitalícia às vítimas de microcefalia causada pelo vírus Zika, no valor equivalente ao teto do RGPS (atualmente R$ 7.786,02).
O benefício poderá ser cumulado com o BPC e outros benefícios previdenciários de até um salário mínimo, além de ser isento de IR e contar com 13º proporcional.
Essa pensão, de natureza assistencial e reparatória, evidencia uma abordagem indenizatória do Estado diante de falhas no controle sanitário. O projeto agora aguarda sanção presidencial.
Quais as estratégias para pensão vitalícia em casos de relacionamentos simultâneos
A disputa pela pensão por morte em cenários com relacionamentos simultâneos é complexa e frequentemente judicializada.
Nessas situações, o INSS pode negar o benefício com base na impossibilidade de cumulação, mas a legislação previdenciária oferece caminhos específicos para proteger os direitos dos dependentes.
Conforme explica o advogado Mauro Rodrigues, embora o benefício seja, em regra, destinado a apenas um dependente, há exceções importantes que precisam ser analisadas caso a caso.
“A legislação veda a acumulação de pensões por morte do mesmo regime previdenciário, mas existem estratégias e exceções que podem garantir o reconhecimento da união estável e o direito à pensão, mesmo diante de conflitos”, ressalta Mauro.
Entre os principais pontos destacados pelo especialista, estão:
a) Comprovação da união estável
Mesmo diante de outros relacionamentos paralelos, é possível garantir o direito à pensão desde que fique demonstrado que a união era pública, contínua, duradoura e com ânimo de constituir família.
Isso pode ser feito com documentos como contas em conjunto, comprovação de residência no mesmo local, filhos em comum e testemunhos.
b) Decisão judicial
“Em situações de conflito entre companheiros ou cônjuges, caberá ao Judiciário decidir com base nas provas qual deles terá direito ao benefício”, explica Mauro Rodrigues.
A decisão judicial considerará quem de fato era dependente e quem exercia a convivência de maneira pública e duradoura.
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O que é pensão vitalícia?
Pensão vitalícia é um pagamento financeiro contínuo, sem prazo determinado para cessação (enquanto o beneficiário viver ou enquanto persistir a condição que gerou o direito), concedido em situações específicas previstas na lei, seja no direito de família (divórcio, filhos com deficiência), direito do trabalho (acidente/doença ocupacional) ou direito previdenciário (pensão por morte em certas condições).
Quanto tempo dura a pensão vitalícia?
A pensão vitalícia, por sua natureza, não possui uma duração predefinida. Ela perdura enquanto o beneficiário atender aos requisitos legais que originaram o direito ao benefício, como a vida do cônjuge divorciado dependente, a condição de deficiência do filho ou a incapacidade laboral permanente do trabalhador.
Na pensão por morte previdenciária, a vitaliciedade depende da idade e do tipo de dependente na data do óbito, conforme as regras do INSS.
Quem tem direito à pensão mensal vitalícia no INSS (pensão por morte)?
Conforme as regras vigentes desde 01/01/2021, a pensão por morte será vitalícia para o dependente que, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos:
O falecido tenha realizado no mínimo 18 contribuições mensais ao INSS;
O óbito tenha ocorrido após dois anos do início do casamento ou da união estável;
O dependente tenha 45 anos ou mais na data do falecimento.
Além disso, a pensão é vitalícia independentemente da idade se o dependente for pessoa com deficiência grave, intelectual ou mental, ou se estiver inválido no momento do óbito.
Um filho pode receber pensão vitalícia?
Sim, um filho pode receber pensão vitalícia em algumas situações. No direito de família, filhos com incapacidade total e permanente que dependem economicamente dos pais podem ter direito à pensão vitalícia.
No direito previdenciário (pensão por morte), filhos com deficiência grave, intelectual ou mental, ou inválidos no momento do óbito, têm direito à pensão vitalícia, independentemente da idade.
Como comprovar a união estável para fins de pensão vitalícia por morte?
A comprovação da união estável exige a apresentação de documentos que demonstrem a convivência pública, contínua, duradoura e com o objetivo de constituir família.
Isso pode incluir certidões de nascimento de filhos em comum, declarações de imposto de renda, contas bancárias conjuntas, comprovantes de residência no mesmo endereço, depoimentos de testemunhas e fotografias do casal.
O que fazer se o INSS negar indevidamente a pensão vitalícia por morte?
Em caso de negativa do INSS, o primeiro passo é interpor recurso administrativo dentro do prazo de 30 dias.
Se o recurso for negado, o próximo passo é ajuizar uma ação judicial contra o INSS, apresentando todas as provas documentais, técnicas e testemunhais que sustentem o direito ao benefício.
O ex-cônjuge pode ter direito à pensão vitalícia por morte?
Sim, o ex-cônjuge ou ex-companheiro pode pleitear a pensão por morte, inclusive com caráter vitalício se atender aos requisitos do INSS, desde que comprove a dependência econômica em relação ao segurado falecido no momento do óbito.
O que acontece com a pensão vitalícia por morte se o beneficiário se casar novamente?
O novo casamento ou união estável do pensionista vitalício, em regra, não causa a cessação da pensão por morte, especialmente após as alterações legislativas.
A vitaliciedade está ligada às condições do dependente na data do óbito e não a eventos posteriores.