Comoriência no Direito das Sucessões: Implicações e funcionamento

4 jun, 2025
Advogado analisando um caso de comoriência

A comoriência, no contexto do Direito das Sucessões, ocorre quando duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, sem que seja possível estabelecer quem morreu primeiro. 

Neste artigo vamos explicar o conceito e os efeitos desse instituto jurídico, abordando seus fundamentos legais, as consequências na transmissão dos bens hereditários — com destaque para a impossibilidade de sucessão entre os comorientes. 

Além de ressaltar o impacto específico em contratos como seguros de vida, nos quais a morte simultânea do segurado e do beneficiário exige atenção especial quanto à destinação da indenização.

Quando se aplica a comoriência e qual é a sua base legal?

Em casos de comoriência a legislação estabelece uma presunção legal para regular a sucessão dos bens.

A base legal para a comoriência encontra-se no artigo 8º do Código Civil:

Art. 8º, Código Civil – Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.”

Essa presunção visa resolver impasses na sucessão, impedindo que se atribua herança de um comoriente ao outro, uma vez que, juridicamente, considera-se que faleceram ao mesmo tempo

É importante destacar que a simultaneidade aqui não exige que os óbitos tenham ocorrido no mesmo instante, mas sim que não seja possível comprovar quem morreu primeiro, mesmo com a utilização de provas técnicas, como as perícias médicas e laudos de necropsia.

No contexto sucessório, a comoriência impede a transmissão de bens entre os comorientes

De modo que cada um deles será sucedido diretamente pelos seus herdeiros, sem que haja transferência patrimonial entre os que morreram na mesma ocasião. 

Essa regra é essencial para garantir a segurança jurídica na partilha dos bens, evitando disputas sobre a ordem de sucessão.

Portanto, a aplicação da comoriência exige a existência de incerteza absoluta quanto à ordem dos falecimentos e se fundamenta no objetivo de proteger os interesses dos herdeiros legítimos, assegurando que a transmissão patrimonial se dê de maneira correta e justa.

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Os efeitos da comoriência no direito sucessório

No contexto do Direito das Sucessões, é imprescindível ressaltar que, para haver transmissão da herança, é necessário queno momento do falecimento do autor da herança, seus herdeiros estejam vivos. 

Isso decorre do princípio de que não há sucessão entre mortos, tampouco transmissão de herança entre vivos.

Com a comoriência, caracterizada pela morte simultânea de indivíduos com vínculos sucessórios, a sucessão direta entre os falecidos é inviabilizada

Dessa forma, não existe transferência patrimonial entre os comorientes, pois a simultaneidade das mortes impede a identificação de quem teria direito sucessório em primeiro lugar.

Sobre o tema, Maria Berenice Dias esclarece:

“Não havendo a possibilidade de saber quem é herdeiro de quem, a lei presume que as mortes foram concomitantes. Desaparece o vínculo sucessório entre ambos. Com isso, um não herda do outro e os bens de cada um passam aos seus respectivos herdeiros.”

Assim, os bens de cada comoriente são destinados diretamente aos seus herdeiros legítimos, observando-se a ordem da vocação hereditária prevista no artigo 1.829 do Código Civil: 

Art. 1.829, Código Civil – A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente; 

II – aos ascendentes; 

III – ao cônjuge; 

IV – aos colaterais.”

Por exemplo, no caso de cônjuges que falecem em acidente sem identificação da ordem de óbito, não há direito sucessório entre eles. Cada um transmitirá seus bens diretamente aos seus próprios herdeiros. 

Ainda que fossem casados sob regime que autorizasse concorrência sucessória, essa regra não se aplica em caso de comoriência, pois não se admite sucessão entre comorientes.

Em síntese, a comoriência elimina o vínculo sucessório entre os falecidos, assegurando que os bens de cada um sejam transmitidos conforme a regra da sucessão legítima, sem a necessidade de apurar direito sucessório entre eles.

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Representação do Direito de sucessões

Qual é o impacto da comoriência em seguros de vida e outros contratos?

Quando tratamos da comoriência no contexto dos seguros de vida e outros contratos, nos deparamos com uma situação delicada: tanto o segurado quanto o beneficiário falecem simultaneamente, o que gera dúvidas sobre quem será o destinatário da indenização prevista.

O maior desafio nesse cenário é justamente a definição de quem teria direito a receber os valores do seguro. 

A presunção legal, nesse caso, é de que não houve transmissão de bens entre segurado e beneficiário, fazendo com que os valores sejam destinados aos respectivos herdeiros.

Quem paga o seguro de vida em caso de comoriência?

A responsabilidade pelo pagamento da apólice permanece com a seguradora

Entretanto, na ausência de um beneficiário sobrevivente, o valor será direcionado aos herdeiros legítimos do segurado, conforme as regras da sucessão legítima ou testamentária previstas no Art. 1.829, Código Civil.

Art. 1.829, Código Civil – A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:)

I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III – ao cônjuge sobrevivente;

IV – aos colaterais.”

Dessa forma, a divisão do valor da apólice respeitará a ordem da vocação hereditária estabelecida na legislação.

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Quais são os critérios para determinar a comoriência em um contrato de seguro?

O critério central para caracterizar a comoriência é a impossibilidade de comprovar a ordem dos falecimentos

Em regra, essa situação deve ser atestada por laudos médicos ou perícias técnicas, capazes de confirmar que não é possível estabelecer quem faleceu primeiro.

Muitos contratos de seguro já trazem cláusulas específicas para lidar com essa hipótese, prevendo a distribuição da indenização em caso de morte simultânea.

E se houver divergência entre os herdeiros?

Em situações de divergência entre herdeiros sobre a aplicação da comoriência, será necessário ajuizar ação judicial para a solução do impasse. 

Dessa maneira, caberá ao Poder Judiciário analisar as provas apresentadas — como certidões de óbito, laudos médicos e contratos de seguro — para definir o destino da indenização.

O processo pode envolver a interpretação de cláusulas contratuais e a avaliação técnica da causa da morte.

Quais são os desafios da comoriência em seguros de vida?

Os principais desafios da comoriência em contratos de seguro incluem:

  • Impacto emocional sobre os herdeiros;
  • Complexidade jurídica para a correta divisão da indenização;
  • Risco de litígios em razão de divergências quanto à sucessão.

É importante a atuação de advogados especializados para garantir que os procedimentos sejam realizados conforme o direito aplicável.

Como evitar problemas com comoriência no seguro?

A melhor estratégia para mitigar eventuais conflitos é realizar um planejamento sucessório adequado e revisar periodicamente as apólices de seguro

Algumas medidas importantes são:

  • Atualizar os beneficiários;
  • Inserir cláusulas específicas;
  • Consultar um advogado;

É possível contestar a aplicação da comoriência?

Sim. Caso haja elementos que permitam comprovar a ordem dos falecimentos, é possível contestar a presunção de comoriência, com base em laudos médicos, testemunhos e outras provas periciais.

Essa contestação será analisada judicialmente, podendo alterar a distribuição dos valores da apólice.

Como os herdeiros devem proceder em caso de comoriência?

Diante da comoriência, os herdeiros devem:

  1. Reunir a documentação necessária, como certidões de óbito e contratos de seguro;
  2. Buscar orientação jurídica especializada para análise da situação concreta;
  3. Apresentar provas que demonstrem a impossibilidade de definir a ordem dos falecimentos, se necessário.

Agindo dessa maneira, será possível assegurar o recebimento dos valores devidos de forma rápida e segura.

Como o advogado pode atuar nesses casos?

Em situações de comoriência, a atuação do advogado é fundamental para orientar os herdeiros em meio à complexidade jurídica envolvida. 

O profissional pode auxiliar na coleta da documentação necessária, como certidões de óbito e contratos relevantes, e analisar as particularidades do caso para determinar a correta aplicação da lei. 

Além disso, o advogado pode representar os interesses dos herdeiros em processos de inventário, na solução de divergências sobre a partilha de bens ou sobre a destinação de indenizações de seguros, buscando sempre a segurança jurídica e a justa aplicação das normas do Direito das Sucessões. 

Em casos de contestação da comoriência, o advogado será essencial na produção de provas e na defesa dos direitos dos seus clientes perante o Poder Judiciário.

Referências

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Sucessões. 7. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, pág. 286.

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O que é comoriência no contexto do Direito das Sucessões? 

Comoriência é um instituto jurídico aplicado quando duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, sem que seja possível determinar quem morreu primeiro.

Qual artigo do Código Civil fundamenta a aplicação da comoriência?

A base legal para a comoriência encontra-se no artigo 8º do Código Civil.

A simultaneidade da morte na comoriência exige que os óbitos ocorram no mesmo instante?

Não, a simultaneidade na comoriência significa a impossibilidade de comprovar quem morreu primeiro, mesmo com provas técnicas.

Qual o principal efeito da comoriência na transmissão de bens entre os falecidos?

 O principal efeito é que a comoriência impede a transmissão de bens entre os comorientes. Cada um é sucedido diretamente por seus próprios herdeiros.

Como a comoriência impacta a ordem da vocação hereditária prevista no Código Civil?

A comoriência elimina o vínculo sucessório entre os falecidos, fazendo com que os bens de cada um sejam transmitidos aos seus respectivos herdeiros legítimos, seguindo a ordem da vocação hereditária do artigo 1.829 do Código Civil.

Em caso de comoriência entre cônjuges, há direito sucessório entre eles?

Não, em caso de comoriência entre cônjuges, não há direito sucessório entre eles. Cada um transmite seus bens diretamente aos seus próprios herdeiros.

Qual o principal desafio da comoriência em relação aos seguros de vida?

O maior desafio é definir quem teria direito a receber a indenização, já que tanto o segurado quanto o beneficiário faleceram simultaneamente.

Para quem é destinada a indenização de um seguro de vida em caso de comoriência entre segurado e beneficiário?

Na ausência de um beneficiário sobrevivente, o valor do seguro é direcionado aos herdeiros legítimos do segurado, conforme as regras da sucessão legítima ou testamentária.

Quais são os critérios utilizados para determinar a comoriência em um contrato de seguro?

O critério central é a impossibilidade de comprovar a ordem dos falecimentos, geralmente atestada por laudos médicos ou perícias técnicas.

É possível contestar a aplicação da comoriência? Em quais situações?

Sim, é possível contestar a aplicação da comoriência caso haja elementos que permitam comprovar a ordem dos falecimentos, com base em laudos médicos, testemunhos e outras provas periciais.

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Sobre o autor

Jamile Cruz

Jamile Cruz

Pedagoga e estudante de Direito na UNEB. Pós-graduada em Direito Civil e Direito Digital. Apaixonada por educação, tecnologia e produção de conteúdo jurídico. Pesquisadora na área de proteção de dados e inovação no Direito.

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