O recesso forense é um momento importante no calendário jurídico, marcado pela interrupção de atividades regulares nos tribunais e a suspensão dos prazos processuais.
Contudo, medidas urgentes continuam sendo tratadas em regime de plantão, exigindo atenção dos advogados para garantir a proteção dos interesses de seus clientes.
Neste guia, abordaremos as principais dúvidas, exemplos práticos e dicas para aproveitar esse período de forma estratégica.
O que é o recesso forense?
O recesso forense é o período em que os tribunais suspendem atividades regulares, como audiências e sessões de julgamento, e interrompem a contagem de prazos processuais.
Esse intervalo ocorre entre 20 de dezembro a 20 de janeiro, com plantões judiciários disponíveis para demandas urgentes.
É importante que você saiba que esse período, na verdade, inclui o recesso forense propriamente dito (20/12 a 06/01) e também as férias do advogado (07/01 a 20/01).
Como surgiu o recesso forense?
O recesso forense surgiu como uma necessidade de garantir um período de descanso aos membros do Poder Judiciário, advogados e servidores, além de promover uma pausa na tramitação de processos durante os feriados de fim de ano.
A prática foi oficializada no Brasil com a Lei nº 5.010/1966, em seu artigo 62, estabelecendo o recesso no âmbito da Justiça Federal entre 20 de dezembro e 6 de janeiro.
Confira o artigo 62, I, da Lei nº 5.010/1966:
Art. 62. Além dos fixados em lei, serão feriados na Justiça Federal, inclusive nos Tribunais Superiores:
I – os dias compreendidos entre 20 de dezembro e 6 de janeiro (…)
Mesmo com o intervalo na rotina do sistema jurídico, os serviços urgentes continuam sendo assegurados por meio de plantões judiciais.
O que é o regime de plantão no recesso forense?
O plantão judicial é regulamentado pela Resolução nº 244/2016 do CNJ e destina-se exclusivamente a medidas urgentes, como:
- Tutelas de urgência: Art. 300 do CPC.
- Habeas corpus: Art. 5º, LXVIII da CF e arts. 647 a 667 do CPP.
- Medidas protetivas: Art. 22 da Lei Maria da Penha.
- Pedidos de alvarás urgentes: Ex.: levantamento de valores essenciais.
Quais são os dias em que os prazos são suspensos no recesso forense entre 20 de dezembro e 6 de janeiro?
A suspensão de prazos, em regra, ocorre entre 20 de dezembro e 20 de janeiro de acordo com a respectiva área do Direito:
- Cível: De 20/12 a 20/01, conforme o art. 220 do CPC.
- Penal: De 20/12 a 20/01, conforme o art. 798-A do CPP – com exceções!
- Trabalhista: De 20/12 a 20/01, conforme o art. 775-A da CLT.
Como é a contagem de prazos no recesso forense entre 20 de dezembro e 6 de janeiro?
Durante o recesso, os prazos processuais são interrompidos e retomados no primeiro dia útil após o término do período, seguindo as seguintes regras:
- Cível: Contagem é suspensa e retomada após 20/01.
- Penal: Regras do art. 798-A do CPP garantem a suspensão integral dos prazos, mas com exceções para casos específicos.
- Trabalhista: Contagem é suspensa e retomada também após 20/01.
Exemplo prático com base no CPC:
Imagine que um prazo de 15 dias úteis começa no dia 16 de dezembro de 2024. A contagem ocorre da seguinte forma:
Início do prazo:
O prazo começa no dia 16 de dezembro de 2024 (segunda).
Por força do art. 224 do CPC, o primeiro dia é excluído da contagem e acrescenta-se um dia ao fim.
Assim, a contagem seria:
- 16 de dezembro (segunda-feira): Dia desconsiderado.
- 17 de dezembro (terça-feira): 1º dia útil.
- 18 de dezembro (quarta-feira): 2º dia útil.
- 19 de dezembro (quinta-feira): 3º dia útil.
Ou seja, 3 dias úteis são contados antes do período de recesso.
Período de suspensão:
Conforme o art. 220 do CPC, os prazos processuais ficam suspensos de 20 de dezembro de 2024 (sexta-feira) até 20 de janeiro de 2025 (segunda-feira).
Nenhum dia útil é contado durante esse período.
Retomada do prazo:
A contagem é retomada no primeiro dia útil após o recesso, que será 21 de janeiro de 2025 (terça-feira).
Como já foram contados 3 dias úteis antes do recesso, restam 12 dias úteis a serem cumpridos.
Fim do prazo:
A contagem de 12 dias úteis restantes se dá de 21 de janeiro de 2025 (terça-feira) até 5 de fevereiro de 2025 (terça-feira), considerando os dias úteis.
Resumo:
Portanto, o prazo de 15 dias úteis, iniciado em 16 de dezembro de 2024, termina em 5 de fevereiro de 2025 (terça-feira).
O que não suspende no recesso forense entre 20 de dezembro e 6 de janeiro?
Mesmo durante o recesso, algumas atividades continuam:
- Medidas urgentes: Como tutelas provisórias, habeas corpus e alvarás.
- Plantões judiciários: Atendimento exclusivo para demandas de risco grave ou irreparável.
Como atuar em causas urgentes durante o recesso?
Atuar em causas urgentes durante o recesso forense exige conhecimento dos procedimentos específicos e capacidade de responder prontamente às exigências do caso.
Ao adotar uma abordagem estruturada, o advogado(a) garante que direitos fundamentais sejam resguardados mesmo em períodos de inatividade judiciária regular.
Veja a seguir quais são as etapas e orientações para atuar em causas urgentes durante o recesso forense:
Identifique a urgência
Antes de acionar o plantão judicial, avalie criteriosamente a necessidade da medida:
- Risco de dano irreparável ou de difícil reparação: a urgência deve estar claramente associada à iminência de prejuízos irreversíveis, como no caso de tutela de saúde, proteção de direitos da criança e do adolescente, sustação de protestos ou medidas liminares em ações possessórias.
- Natureza da causa: priorize situações que envolvam direitos fundamentais, como direito à vida, à saúde, ou à liberdade.
- Prazos e consequências: considere se a ausência de intervenção imediata durante o recesso pode inviabilizar o direito pleiteado.
Consulte o plantão judicial
Os tribunais mantêm plantões judiciais durante o recesso para atender casos urgentes. É fundamental conhecer a estrutura disponível:
- Horários e locais: verifique no site do tribunal correspondente os horários de funcionamento e os canais de atendimento do plantão judicial. Alguns tribunais adotam sistemas híbridos, com atendimento presencial e eletrônico.
- Competência: identifique o tribunal ou o magistrado de plantão competente para a sua demanda, evitando encaminhar o pedido ao juízo errado e gerar atrasos.
- Documentos necessários: consulte previamente os requisitos para peticionamento no plantão, como assinaturas digitais e envio de documentos obrigatórios.
Prepare uma boa fundamentação
Uma fundamentação bem estruturada é essencial para aumentar as chances de êxito no plantão:
- Clareza e objetividade: redija a petição de forma direta, destacando os fatos principais e o risco envolvido.
- Fatos e provas: anexe todos os documentos que comprovem a urgência, como relatórios médicos, notificações ou outros elementos essenciais.
- Base legal e jurisprudencial: justifique seu pedido com respaldo na legislação aplicável, por exemplo, o art. 300 do CPC (referente à concessão de tutela de urgência).
- Contexto da urgência: detalhe por que o caso não pode aguardar o término do recesso para ser analisado, destacando a gravidade do dano em potencial.
Utilize ferramentas tecnológicas
A tecnologia pode ser uma aliada para agilizar sua atuação durante o recesso:
- Consulta processual online: acompanhe movimentações nos sites dos tribunais.
- Peticionamento eletrônico: prepare-se para utilizar sistemas de peticionamento, como o PJe ou outros adotados pelo tribunal de plantão.
- Certificação digital: certifique-se de que possui um certificado digital válido e que está com acesso aos sistemas judiciais devidamente configurados.
Mantenha a comunicação com o cliente
Transparência com o cliente é essencial em casos urgentes:
- Esclareça o procedimento: informe-o sobre os passos a serem seguidos, os possíveis prazos e os desdobramentos do caso.
- Atualizações constantes: comunique imediatamente qualquer decisão ou movimentação processual para garantir que o cliente esteja ciente do andamento da causa.
- Gerenciamento de expectativas: explique as limitações do plantão judicial, como a análise restrita de medidas emergenciais e a impossibilidade de apreciação de pedidos ordinários.
Esteja preparado para audiências ou diligências
Em alguns casos, o plantão judicial pode exigir participação em audiências emergenciais ou outras diligências:
- Organização prévia: tenha acesso rápido a todos os documentos necessários para instruir o caso.
- Atenção à agenda: esteja disponível para responder a intimações ou chamadas de última hora durante o período do plantão.
- Parceria com correspondentes: caso necessário, conte com o apoio de correspondentes jurídicos para atender demandas em outras comarcas.
Avalie o impacto de possíveis decisões desfavoráveis
Por se tratar de medidas excepcionais, decisões no plantão judicial podem ser sujeitas a posterior revisão. Para minimizar riscos:
- Preparação para recursos: tenha uma estratégia pronta para contestar decisões que não atendam integralmente ao pleito, como embargos ou pedidos de reconsideração.
- Foco na urgência: priorize o atendimento do direito essencial, sabendo que questões complementares podem ser analisadas após o recesso.
Recesso forense suspende a cobrança de honorários?
Não. O recesso forense suspende apenas prazos judiciais, mas obrigações contratuais, como a cobrança de honorários advocatícios, seguem válidas.
Como aproveitar o período de Recesso Forense?
Mesmo com a pausa nas atividades regulares, o recesso forense é uma oportunidade para:
Planejar processos e organizar prazos
Mesmo com a suspensão de prazos processuais durante o recesso, é essencial organizar os casos que retomam logo após esse período.
Algumas ações práticas incluem:
- Revisar os prazos futuros: utilize ferramentas de gestão para monitorar processos que exigem atenção no retorno das atividades.
- Elaborar estratégias processuais: antecipe petições, contestações e outras demandas para aliviar o volume de trabalho em janeiro.
- Revisar processos em andamento: faça uma análise detalhada dos casos para identificar pontos de atenção e possíveis ajustes.
Atualizar-se profissionalmente
O recesso é ideal para investir em sua formação e atualização jurídica:
- Estudo de legislação: aprofunde-se em temas relevantes, como o art. 798-A do CPP (que trata da contagem de prazos processuais) e alterações na CLT, que impactam a prática trabalhista.
- Participação em cursos e eventos: muitos cursos online oferecem capacitação jurídica intensiva durante o período de recesso. Escolha temas que complementam suas áreas de atuação.
- Leitura de jurisprudência: atualize-se sobre os entendimentos mais recentes dos tribunais superiores para fortalecer sua argumentação em casos futuros.
Fortalecer a comunicação com clientes
Manter o relacionamento com os clientes é fundamental, mesmo durante o recesso:
- Envie relatórios de andamento: ofereça um panorama claro sobre a situação dos processos e os próximos passos esperados.
- Reforce o vínculo profissional: entre em contato para esclarecer dúvidas, apresentar novidades jurídicas relevantes e demonstrar sua proatividade.
- Antecipe demandas: oriente os clientes sobre possíveis movimentações judiciais após o término do recesso.
Investir em tecnologia e inovação
Aproveite o período de menor fluxo de trabalho para implementar ferramentas que otimizem sua atuação:
- Gestão de prazos e processos: plataformas como Legalcloud e a Jurídico AI ajudam a gerenciar prazos e automatizar peças processuais.
- Automação de documentos: avalie softwares que facilitam a elaboração de contratos, petições, contestações e outros documentos padronizados.
Revisar a gestão do escritório
O recesso é uma oportunidade valiosa para avaliar a administração do escritório e planejar melhorias:
- Planejamento financeiro: analise receitas e despesas do ano anterior e trace um planejamento para o ano seguinte.
- Organização interna: revise fluxos de trabalho, redistribua tarefas e crie procedimentos mais eficientes.
- Marketing jurídico: planeje estratégias para aumentar sua visibilidade, sempre respeitando os limites éticos estabelecidos pela OAB.
Cuidar do bem-estar
Por fim, lembre-se de que o recesso também é um momento para descansar e recarregar as energias:
- Priorize a saúde mental: use o período para relaxar e desconectar-se do estresse cotidiano.
- Fortaleça vínculos pessoais: dedique tempo à família e amigos.
- Planeje metas pessoais e profissionais: utilize o momento para refletir sobre suas conquistas e estabelecer objetivos para o próximo ano.
Recesso Forense: Tempo de reflexão, atualização e fortalecimento de relações
O recesso forense, além de marcar a suspensão de prazos e atividades regulares nos tribunais, é um momento estratégico para advogados organizarem demandas, planejarem processos e se prepararem para o retorno do calendário jurídico.
Atuar em causas urgentes durante o plantão judicial exige agilidade e fundamentação adequada, garantindo a proteção dos direitos dos clientes mesmo em períodos excepcionais.
Além disso, é uma oportunidade para investir em atualização profissional, revisar a gestão do escritório e fortalecer vínculos com clientes.
Por fim, o recesso forense deve ser aproveitado de maneira equilibrada, combinando trabalho e descanso. Esse período pode se tornar uma oportunidade para renovação e produtividade, preparando o profissional do direito para iniciar o ano com mais foco, organização e eficiência.
Acesse nosso artigo sobre Recesso Forense no TJSP 2024/2025: Como funciona e quais são as regras?