Herança Digital: O que advogados precisam saber para orientar seus clientes

6 fev, 2025
Uma advogada carimbando um documento sobre herança digital.

A herança digital é um conceito em crescimento no Direito contemporâneo e diz respeito à transmissão do patrimônio digital de uma pessoa falecida a seus herdeiros. 

Este tema, que abrange bens como contas em redes sociais, arquivos digitais e conteúdos digitais, ainda carece de regulamentação específica no Brasil, mas vem ganhando espaço no debate jurídico e na prática forense. 

Neste artigo, exploraremos o conceito, como os advogados podem orientar seus clientes em questões de herança digital e os desafios legais envolvidos. Confira!

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O que é Herança Digital?

Herança digital refere-se aos ativos e bens virtuais que podem ser transmitidos aos herdeiros após a morte do titular. Isso inclui:

  • Contas em redes sociais (Facebook, Instagram, LinkedIn);
  • Arquivos armazenados na nuvem (Google Drive, Dropbox);
  • Criptomoedas e ativos financeiros digitais;
  • Licenças de softwares ou assinaturas digitais (Netflix, Spotify);
  • Direitos sobre blogs, sites, canais no YouTube ou outros conteúdos monetizados;
  • Carteiras digitais vinculadas a marketplaces ou fintechs.

Embora muitos desses ativos tenham valor econômico direto, outros são intangíveis, como memórias pessoais ou registros que possuem valor sentimental.

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Aspectos Jurídicos da Herança Digital

Atualmente, o Brasil ainda não possui uma legislação específica para regulamentar a herança digital, mas existem lacunas supridas por interpretações do Código Civil e jurisprudência

Algumas considerações importantes incluem:

  • Aplicação do Código Civil: O Código Civil Brasileiro estabelece que os bens transmissíveis aos herdeiros incluem direitos e obrigações patrimoniais. Nesse sentido, o artigo 1.791 do Código Civil prevê que a herança constitui um todo unitário, transmitido aos herdeiros desde o falecimento do autor da herança. Assim, bens digitais que tenham valor econômico ou impliquem direitos patrimoniais podem ser considerados parte do espólio e, portanto, sujeitos à sucessão.
  • Direito Sucessório: A herança digital segue as regras gerais do direito sucessório, com respeito aos herdeiros necessários e à divisão proporcional dos bens (art. 1.829 do Código Civil). 
  • Cláusulas Contratuais de Serviços Digitais: Algumas plataformas, como Google e Facebook, possuem termos que regem o destino das contas após a morte do titular. Isso pode incluir exclusão, memorialização ou transferência de acesso.

Como fazer um planejamento de Herança Digital?

O planejamento da herança digital tem se tornado cada vez mais relevante na era digital, especialmente para evitar conflitos e garantir a correta destinação de bens virtuais após o falecimento do titular. 

Os advogados podem desempenhar um papel fundamental ao orientar seus clientes sobre as melhores práticas para organizar e transmitir seus ativos digitais de forma segura e legal.

Confira a seguir como realizar o planejamento de herança digital.

Inventário Digital

Recomende ao cliente a criação de um inventário digital detalhado, contendo:

  • Lista de contas em plataformas online (e-mails, redes sociais, serviços de streaming, contas bancárias digitais, criptomoedas, etc.).
  • Informações de login, incluindo senhas armazenadas de forma segura (como em um gerenciador de senhas).
  • Instruções específicas sobre o destino de cada ativo digital.
  • Nomeação de uma pessoa de confiança para administrar os bens digitais após o falecimento.

Cláusulas Testamentárias

A inclusão de disposições específicas sobre bens digitais no testamento pode evitar disputas e garantir o cumprimento da vontade do titular. Para isso:

  • Determine quais bens digitais serão transmitidos aos herdeiros.
  • Especifique quais contas devem ser encerradas ou preservadas.
  • Nomeie responsáveis pela gestão das contas, garantindo que possuam a capacidade técnica e legal para administrá-las.
  • Atente-se às normas das plataformas, pois algumas têm políticas específicas sobre o acesso a contas de falecidos.

Uso de Gestores Digitais

Muitas plataformas oferecem ferramentas para planejamento póstumo, como:

  • Facebook: permite nomear um contato de legado para gerenciar a conta ou optar pela exclusão automática.
  • Google: oferece o “Gerenciador de Contas Inativas”, que pode enviar dados a contatos confiáveis ou excluir a conta após um período de inatividade.
  • Apple: possui a funcionalidade de “Contato Herdeiro”, permitindo o acesso a dados armazenados no iCloud.

Contratos de Gestão Digital

Além do testamento, contratos ou declarações extrajudiciais podem ser úteis para formalizar a gestão dos bens digitais. Algumas opções incluem:

  • Mandato Digital: instrumento de procuração que autoriza terceiros a acessarem contas e bens digitais.
  • Acordo de Confidencialidade: para garantir o sigilo de determinadas informações digitais.
  • Contratos de Gestão de Criptomoedas: importante para garantir a correta transmissão de ativos digitais como Bitcoin e outras criptomoedas.

Aspectos Legais e Proteção de Dados

É essencial que advogados orientem seus clientes sobre os aspectos jurídicos relacionados à herança digital, considerando:

  • Leis de proteção de dados (LGPD no Brasil e GDPR na Europa), que podem impactar o acesso a contas digitais.
  • Normas das plataformas sobre a sucessão digital e políticas de privacidade.
  • Validade jurídica das disposições digitais incluídas em testamentos ou contratos.

O planejamento da herança digital é um processo essencial para evitar a perda de ativos valiosos e garantir que a vontade do titular seja respeitada. 

Os advogados devem auxiliar seus clientes na organização de bens digitais, na inclusão de cláusulas testamentárias e na elaboração de contratos específicos para assegurar uma transmissão segura e legal dos bens virtuais. 

Com uma abordagem estruturada e preventiva, é possível minimizar riscos e oferecer segurança jurídica aos herdeiros e responsáveis pela gestão do legado digital.

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Desafios enfrentados pelos Advogados

Apesar da crescente demanda, advogados enfrentam desafios ao lidar com a herança digital:

  • Falta de regulamentação específica: o Brasil ainda não dispõe de normas detalhadas sobre como tratar bens digitais no processo sucessório.
  • Cláusulas contratuais restritivas: algumas plataformas proíbem a transferência de contas ou exigem procedimentos específicos para acesso pós-morte.
  • Privacidade e Sigilo: garantir a preservação de dados sensíveis do falecido, sem violar direitos dos herdeiros, é um ponto delicado.
Um advogado produzindo um documento de herança digital.

Como os advogados podem auxiliar os clientes na gestão de bens digitais?

Veja a seguir dicas práticas para você auxiliar seus clientes sobre bens digitais

Educação Jurídica

Advogados podem orientar seus clientes sobre a importância de planejar a destinação de bens digitais, como contas em redes sociais, criptomoedas, domínios de sites e bibliotecas digitais. 

A falta de um planejamento adequado pode gerar conflitos familiares, perda de ativos valiosos e dificuldades emocionais para os herdeiros.

Testamentos Personalizados

É essencial incluir disposições específicas sobre bens digitais em testamentos e documentos sucessórios. 

Os advogados podem auxiliar na redação de cláusulas detalhadas, garantindo que senhas, acessos e permissões sejam concedidos a pessoas de confiança, de acordo com a vontade do titular.

Cláusulas específicas em Contratos e Testamentos

Além do testamento tradicional, os advogados podem elaborar cláusulas personalizadas em contratos de sociedade, acordos pré-nupciais e testamentos vitais para abordar a transferência de bens digitais, garantindo segurança jurídica.

Representação Legal para Recuperação de Ativos Digitais

Em situações em que os herdeiros não consigam acesso a ativos digitais devido a políticas restritivas das plataformas, advogados podem atuar na representação legal, solicitando ordens judiciais para desbloqueio de contas ou recuperação de valores retidos.

Gestão de Conflitos

Em disputas envolvendo herança digital, o advogado pode atuar estrategicamente na defesa dos interesses do cliente, seja na mediação de acordos entre herdeiros, na contestação judicial de acessos indevidos ou na garantia de que os direitos do falecido sejam respeitados.

Uso de ferramentas de Planejamento Digital

Muitas empresas, como Google, Apple e Facebook, oferecem recursos de planejamento pós-morte, permitindo que o titular escolha herdeiros digitais ou defina regras de acesso para seus dados.

Os advogados podem orientar os clientes a ativar essas ferramentas e garantir que estejam alinhadas com seus desejos sucessórios.

Conformidade com a LGPD e outras normas de Privacidade

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e outras legislações de privacidade impõem restrições sobre o tratamento de dados pessoais após a morte. 

Advogados devem orientar clientes e herdeiros sobre os limites legais de acesso e uso desses dados, evitando problemas legais e garantindo a devida proteção da privacidade.

Sensibilização e Treinamento

Além de atuar diretamente com os clientes, os advogados podem promover palestras, workshops e conteúdos educativos sobre a importância da gestão de bens digitais, prevenindo disputas e assegurando que mais pessoas compreendam a necessidade de um planejamento sucessório adequado.

Herança Digital: Como garantir a transmissão segura de bens virtuais

A herança digital é um tema cada vez mais relevante no Direito sucessório, exigindo atenção especial de advogados e herdeiros. 

A ausência de regulamentação específica no Brasil impõe desafios, mas estratégias como inventários digitais, testamentos detalhados e cláusulas contratuais podem garantir uma transmissão segura dos bens virtuais

Além disso, a conscientização sobre a importância do planejamento sucessório digital é essencial para evitar disputas e perdas de ativos valiosos. 

Com uma abordagem jurídica estruturada e preventiva, advogados podem auxiliar seus clientes na organização e proteção do patrimônio digital, assegurando que a vontade do titular seja devidamente respeitada.

Confira também nosso artigo sobre Partilha de Bens: quando ocorre e como fazer? 

Perguntas frequentes

O que é Herança Digital?
Herança digital refere-se aos ativos e bens virtuais que podem ser transmitidos aos herdeiros após a morte do titular.
Quais são os bens virtuais que podem entrar na Herança Digital?
Contas em redes sociais (Facebook, Instagram, LinkedIn);
Arquivos armazenados na nuvem (Google Drive, Dropbox);
Criptomoedas e ativos financeiros digitais;
Licenças de softwares ou assinaturas digitais (Netflix, Spotify);
Direitos sobre blogs, sites, canais no YouTube ou outros conteúdos monetizados;
Carteiras digitais vinculadas a marketplaces ou fintechs.

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Sobre o autor

Micaela Sanches

Micaela Sanches

Bacharel em Direito, com especializações em Comunicação e Jornalismo, além de Direito Ambiental e Direito Administrativo. Graduanda em Publicidade e Propaganda, uma das minhas paixões. Amo escrever e aprender sobre diversos assuntos.

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