Art. 208 CC: Prazo Decadencial e seus efeitos no Direito Civil [Comentado]

24 out, 2024
Uma advogada segurando um livro de capa vermelha.

A decadência é um conceito essencial no Direito Civil que pode impactar diretamente a proteção e o exercício de direitos. 

Enquanto a prescrição envolve o prazo para ajuizar uma ação judicial, a decadência vai além: trata-se da extinção do próprio direito material caso não seja exercido dentro do prazo estipulado. 

Isso significa que, mesmo que alguém tenha um direito legítimo, ele pode perdê-lo definitivamente se não agir a tempo. 

Quer entender melhor sobre o prazo decadencial e os seus efeitos? Continue lendo e descubra os detalhes neste artigo!

O que é o Prazo Decadencial?

O prazo decadencial é um limite temporal estabelecido pela legislação para o exercício de um direito, após o qual esse direito não pode mais ser reclamado. 

Diferentemente dos prazos prescricionais, que podem ser interrompidos ou suspensos, os prazos decadenciais são irrenunciáveis e não admitem prorrogação, começando a contar a partir do momento em que o titular do direito toma ciência da sua existência.

A seguir, confira em detalhes os artigos que explicam sobre o prazo decadencial no CC.

Quais normas de prescrição não se aplicam à decadência segundo o art. 207 CC?

Art. 207, CC. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

O art. 207 CC estabelece que, em regra, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. 

A prescrição, diferentemente da decadência, pode ter seu prazo interrompido ou suspenso por certas causas, como incapacidade do titular do direito ou reconhecimento de dívida pelo devedor. 

Na decadência, o prazo é fatal e inexorável, salvo se houver disposição legal expressa em sentido contrário.

Exemplo prático:

Imagine um consumidor que adquire um carro com defeito e tem 90 dias para reclamar judicialmente. Se o consumidor não tomar providências neste prazo, perde o direito material de reclamar o conserto ou a troca do bem. 

Mesmo que ele esteja doente ou impossibilitado de agir durante esse período, não haverá interrupção ou suspensão do prazo, e ele perderá o direito após o vencimento do prazo decadencial.

Art. 208 CC: Aplicação dos Arts. 195 e 198, Inciso I, à Decadência

Art. 208, CC. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.

Esse artigo faz referência a dois dispositivos que, embora tratem da prescrição, tem aplicação também à decadência:

Art. 195, CC. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

O art. 195, CC protege os relativamente incapazes (como menores de 18 e maiores de 16 anos, pródigos, entre outros) e pessoas jurídicas que possam sofrer prejuízo pela inação de seus representantes legais. 

Se o assistente (como um tutor) ou representante legal deixar de atuar dentro do prazo decadencial, causando a perda de um direito, o incapaz ou a pessoa jurídica poderá processá-los por negligência.

Exemplo prático:

Um jovem de 17 anos compra um imóvel com a ajuda de um tutor, mas o tutor deixa de ajuizar uma ação para reclamar de um vício oculto dentro do prazo decadencial. 

Após atingir a maioridade, o jovem pode processar o tutor por negligência, visto que a decadência ocorreu por inércia do representante.

Art. 198, Inciso I, CC: Também não corre a prescrição:

I – contra os incapazes de que trata o art. 3 o ;

O art. 198, I, CC estabelece que a prescrição (e, por extensão, a decadência) não corre contra os absolutamente incapazes, que são definidos pelo art. 3º do Código Civil como:

  • Menores de 16 anos;
  • Pessoas que, por causa transitória ou permanente, não podem exprimir sua vontade;
  • Pessoas com deficiência mental que as impeçam de discernir sobre a realidade.

Essa norma visa proteger os direitos dessas pessoas, já que, por sua condição, elas não têm plena capacidade para zelar por seus próprios interesses. 

O prazo decadencial, nesses casos, só começa a correr quando a pessoa deixa de ser absolutamente incapaz ou quando um representante legal é nomeado.

Exemplo prático:

Um menor de 15 anos herda uma propriedade com problemas estruturais. 

O prazo para que ele possa exigir reparos do vendedor não começa a correr até que ele complete 16 anos (idade em que se torna relativamente incapaz) ou até que um representante legal tome providências. 

Enquanto ele for absolutamente incapaz, a decadência fica suspensa.

Art. 209: Renúncia à Decadência Legal

Art. 209, CC. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

O art. 209, CC determina que a decadência legal (aquela estabelecida por norma jurídica) não pode ser objeto de renúncia. 

Isso significa que, quando a lei estabelece um prazo decadencial, as partes envolvidas não podem, por acordo mútuo, prolongar esse prazo ou abrir mão dele. 

Essa previsão visa garantir a segurança jurídica e impedir que a parte beneficiada pela decadência fique indefinidamente vulnerável a ações.

Exemplo prático:

Se a lei determina que um consumidor tem 90 dias para reclamar sobre um defeito em um produto, o fornecedor não pode acordar com o consumidor a prorrogação desse prazo ou renunciar ao direito de se beneficiar da decadência após esse período.

Art. 210, CC: Decadência Reconhecida de Ofício

Art. 210, CC. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.

O art. 210 estabelece que o juiz deve, de ofício, ou seja, por iniciativa própria, reconhecer a decadência quando esta estiver prevista em lei. 

Isso significa que, mesmo que a parte interessada não alegue a decadência, o juiz tem o dever de verificar se o prazo decadencial já transcorreu e, caso positivo, extinguir o processo.

Exemplo prático:

Se uma ação de anulação de contrato com prazo decadencial de 4 anos for ajuizada após 5 anos, o juiz pode, mesmo sem pedido da outra parte, reconhecer que o direito do autor já se extinguiu e encerrar o processo.

Art. 211, CC: Decadência Convencional

Art. 211, CC. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

Quando a decadência é estabelecida por acordo entre as partes (decadência convencional), o juiz não pode reconhecê-la de ofício, diferentemente da decadência legal. 

Nesse caso, a parte beneficiada pela decadência deve alegar a extinção do direito em qualquer fase do processo para que o juiz possa aplicar a norma.

Exemplo prático:

Em um contrato de seguro, as partes podem estipular que o prazo para requerer a indenização por um sinistro seja de 1 ano. 

Caso esse prazo seja ultrapassado, o segurador deverá alegar a decadência no processo. Se ele não o fizer, o juiz não poderá aplicar o prazo decadencial por conta própria.

Distinção entre Prescrição e Decadência

Embora prescrição e decadência sejam institutos que lidam com prazos, eles diferem no que se refere à natureza do direito que se perde e às regras que regem seus prazos:

  • Prescrição: afeta o direito de ação; é a perda do direito de exigir judicialmente o cumprimento de uma obrigação. A prescrição pode ser interrompida ou suspensa por certas causas, como o reconhecimento de dívida pelo devedor.
  • Decadência: afeta o direito material; é a extinção do próprio direito por inação no prazo estabelecido. Na maioria dos casos, o prazo decadencial não pode ser interrompido ou suspenso, salvo disposição legal.

Exemplo prático:

Se uma pessoa tem o direito de cobrar uma dívida, ela pode perder esse direito de ação por prescrição após um certo prazo (ex: 5 anos). 

Já no caso de uma ação para anular um contrato, se o interessado não a ajuizar dentro do prazo decadencial, ele perde o próprio direito de anular o contrato, mesmo que tenha motivos válidos para questioná-lo.

Um advogado conferindo um documento jurídico.

Prática Forense do Advogado(a) no prazo Decadencial

Na prática forense, o advogado(a) deve estar atento aos prazos decadenciais, pois eles são decisivos para a manutenção do direito de seu cliente. 

Ao contrário dos prazos prescricionais, os prazos de decadência não são passíveis de interrupção ou suspensão, salvo exceções previstas em lei. 

Assim, o advogado(a) precisa agir de maneira diligente para garantir que os direitos de seu cliente não sejam extintos por inação.

Atuação preventiva e estratégica

Uma das principais responsabilidades do advogado é identificar e monitorar os prazos de decadência aplicáveis a cada caso. Isso envolve:

  • Análise Contratual e Legislativa: O advogado(a) deve revisar minuciosamente contratos e legislação aplicável para verificar a existência de prazos decadenciais. Esses prazos, muitas vezes, estão previstos em contratos de consumo, seguros, ou até em situações envolvendo vícios ocultos em bens imóveis, ou móveis.
  • Orientação ao Cliente: O advogado deve educar seus clientes sobre a importância de agir prontamente quando perceberem qualquer irregularidade ou problema que possa gerar um litígio. A conscientização sobre o prazo decadencial é fundamental para evitar a perda do direito material.
  • Ações Rápidas: Em situações onde um prazo decadencial está em curso, o advogado deve agir imediatamente, elaborando a ação judicial ou adotando medidas extrajudiciais antes que o prazo seja encerrado. A eficiência na preparação e no protocolo de documentos é essencial.

O Papel da tecnologia no controle de prazos

Com o uso crescente de ferramentas tecnológicas, muitos escritórios de advocacia já utilizam sistemas de gestão de prazos que auxiliam no controle de decadências. 

Esses softwares são capazes de monitorar e alertar o advogado(a) sobre o vencimento de prazos essenciais, permitindo uma atuação proativa. 

Na prática forense, o uso dessas ferramentas diminui o risco de perda de prazos e assegura que o advogado(a) tenha tempo hábil para tomar as providências cabíveis.

Exemplo Prático

Em uma ação de anulação de contrato com prazo decadencial de 4 anos, o advogado(a) que não ajuíza a ação dentro desse período terá o direito de seu cliente ser extinto, independentemente de justificativas como doença ou outras dificuldades que possam ter ocorrido durante esse período. 

Por isso, o advogado deve acompanhar esses prazos com rigor e assegurar que a medida judicial seja tomada dentro do período decadencial.

Consequências da inobservância dos Prazos Decadenciais

Caso o advogado(a) deixe de ajuizar uma ação ou de realizar qualquer ato necessário dentro do prazo de decadência, o direito do cliente será extinto, impossibilitando a busca judicial ou extrajudicial daquele direito. 

Além disso, a inobservância do prazo pode gerar responsabilidade civil para o advogado(a), levando a possíveis ações de indenização por danos decorrentes da perda do direito do cliente.

O papel da Decadência na segurança das relações jurídicas

Em conclusão, a decadência no Direito Civil desempenha um papel fundamental ao garantir a extinção de direitos materiais que não foram exercidos dentro dos prazos estabelecidos. 

Diferentemente da prescrição, que afeta apenas o direito de ação, a decadência põe fim ao próprio direito material, o que torna seu prazo mais rigoroso e inflexível

Assim, os dispositivos sobre a decadência no Código Civil buscam garantir a segurança jurídica, preservando o equilíbrio entre as partes e a ordem nas relações jurídicas.

Dessa forma, o instituto da decadência contribui para a estabilidade nas relações jurídicas e a previsibilidade das ações judiciais.

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