O saneamento e organização do processo, disciplinado pelo art. 357 do Código de Processo Civil, representa uma das etapas mais estratégicas do procedimento judicial brasileiro.
Esta fase preparatória à instrução probatória estabelece os contornos definitivos do litígio, organiza a produção de provas e resolve questões processuais pendentes, sendo fundamental para garantir eficiência, duração razoável e qualidade na prestação jurisdicional.
Extinção do processo sem resolução do mérito (Art. 485 do CPC)
O que é exatamente o saneamento do processo e qual sua natureza jurídica?
O saneamento do processo é um ato judicial complexo pelo qual o magistrado, após a fase postulatória (petição inicial, contestação, tréplica), realiza um diagnóstico completo da demanda para prepará-la adequadamente para a fase instrutória.
Trata-se de decisão interlocutória que tem por finalidade “limpar” o processo de vícios e irregularidades, delimitando com precisão as questões controvertidas e organizando a atividade probatória.

Quando o juiz deve obrigatoriamente sanear o processo?
O saneamento é obrigatório sempre que não ocorrerem as hipóteses de extinção do processo previstas no Capítulo V do CPC (julgamento antecipado do mérito, julgamento antecipado lide, autocomposição, etc.).
O art. 357 do CPC utiliza a expressão “deverá o juiz”, indicando que se trata de dever-poder do magistrado, não de faculdade.
A decisão deve ser proferida após o término da fase postulatória e antes da designação de audiência de instrução e julgamento, representando marco divisório entre as fases postulatória e probatória do processo.
Confira o art. 357 do CPC completo:
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo:
I – resolver as questões processuais pendentes, se houver;
II – delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos;
III – definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373 ;
IV – delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito;
V – designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.
§ 1º Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável.
§ 2º As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz.
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações.
§ 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas.
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de testemunhas.
§ 6º O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato.
§ 7º O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados.
§ 8º Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua realização.
§ 9º As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as audiências.
Quais são os objetivos específicos que o saneamento deve alcançar?
Objetivos processuais do saneamento são:
- Resolver questões processuais pendentes: eliminação de vícios, nulidades e irregularidades que comprometam o desenvolvimento do processo.
- Garantir segurança jurídica: definição clara dos parâmetros processuais para a fase seguinte.
- Otimizar tempo e recursos: evitando produção de provas desnecessárias ou imprestáveis.
Já os objetivos materiais são o que seguem:
- Delimitar questões de fato controversas: identificação precisa dos pontos que necessitam prova.
- Delimitar questões de direito relevantes: estabelecimento das teses jurídicas aplicáveis ao caso.
- Distribuir adequadamente o ônus probatório: definição de quem deve provar o quê.
Como deve ser estruturada a decisão de saneamento segundo o art. 357 do CPC?
A decisão deve observar os cinco incisos do art. 357 do CPC:
I – Resolver questões processuais pendentes: correção de vícios sanáveis, análise de preliminares não decididas, regularização de representação processual, etc.
II – Delimitar questões de fato: especificação clara dos pontos controvertidos que demandam prova e indicação dos meios probatórios admitidos
III – Definir distribuição do ônus da prova: aplicação das regras do art. 373 e eventual inversão fundamentada do ônus probatório
IV – Delimitar questões de direito: identificação das normas aplicáveis e das teses jurídicas relevantes para o julgamento
V – Designar audiência: quando necessária a produção de prova oral ou quando a complexidade exigir audiência de saneamento.
Quais são as modalidades de saneamento previstas no CPC?
Saneamento por decisão (modalidade tradicional): O juiz, unilateralmente, profere decisão abrangendo todos os aspectos do art. 357, CPC. É a forma mais comum e aplicável à maioria dos casos.
Saneamento consensual (§2º do art. 357, CPC): As partes podem apresentar delimitação consensual das questões de fato e de direito para homologação judicial. Uma vez homologada, vincula partes e juiz, representando verdadeiro negócio jurídico processual.
Audiência de saneamento (§3º do art. 357, CPC): Obrigatória quando a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito. Caracteriza-se pela cooperação entre juiz e partes para organização do processo.

Como funciona o prazo de estabilização da decisão saneadora?
Após proferida a decisão, as partes têm prazo comum de 5 dias para pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes (§1º do art. 357, CPC).
Trata-se de prazo improrrogável que corre simultaneamente para todas as partes.
Findo esse prazo, a decisão se torna estável, operando-se preclusão que vincula tanto as partes quanto o juízo. Apenas questões relacionadas à distribuição do ônus da prova permanecem recorríveis por agravo de instrumento (art. 1.015, XI, CPC).
Qual é o papel estratégico do advogado na fase de saneamento?
Antes da decisão o advogado atua principalmente na:
- Manifestação sobre preliminares: sustentação ou impugnação de questões processuais pendentes.
- Especificação de provas: indicação detalhada e fundamentada dos meios probatórios necessários.
- Proposta de saneamento consensual: apresentação de delimitação consensual quando estrategicamente vantajosa.
Já durante a audiência de saneamento:
- Cooperação ativa: participação construtiva na delimitação das questões.
- Esclarecimento de alegações: aproveitamento da oportunidade para integrar ou esclarecer teses.
- Apresentação do rol de testemunhas: cumprimento dos prazos e limites legais.
E após a decisão:
- Análise crítica: verificação da correção e completude da decisão.
- Pedido de esclarecimentos: utilização estratégica do prazo de 5 dias.
- Adequação da estratégia: ajuste da atuação aos parâmetros fixados.
Quais são os principais erros que os advogados devem evitar no saneamento?
Erros táticos:
- Especificação inadequada de provas: pedido genérico ou desconectado das questões de fato.
- Perda do prazo de 5 dias: deixar passar a oportunidade de esclarecimentos.
- Não participação na audiência de saneamento: desperdiçar chance de influenciar a organização do processo.
Erros estratégicos:
- Não propor saneamento consensual: perder oportunidade de delimitar favoravelmente as questões.
- Falta de objetividade: confundir o juízo com argumentações prolixas sobre questões já decididas.
- Inadequação probatória: não adaptar a estratégia probatória aos limites fixados.
Confira um resumo sobre o saneamento do processo:

Como o saneamento se relaciona com os princípios processuais?
Duração razoável do processo: O saneamento adequado previne nulidades, evita produção de provas inúteis e organiza eficientemente a instrução probatória.
Contraditório e ampla defesa: A delimitação clara das questões permite às partes exercer plenamente seus direitos de defesa e prova.
Cooperação processual: As modalidades consensual e cooperativa materializam o dever de lealdade e boa-fé processual entre todos os sujeitos processuais.
Eficiência e celeridade: A organização adequada do processo reduz retrabalho judicial e otimiza recursos do sistema de justiça.
Quais são as inovações do CPC/2015 em relação ao saneamento?
Ampliação das modalidades: Introdução do saneamento consensual e da audiência obrigatória em casos complexos.
Maior especificação: Detalhamento preciso do conteúdo da decisão saneadora (incisos I a V do art. 357).
Estabilização da decisão: Criação do mecanismo de estabilização com prazo específico para questionamentos.
Enfoque cooperativo: Valorização da participação das partes na organização do processo.
Qual o impacto prático de um saneamento bem conduzido?
Para o processo:
- Redução do tempo de tramitação: até 30% de economia temporal segundo estudos empíricos.
- Diminuição de nulidades: eliminação prévia de vícios processuais.
- Qualidade da instrução: produção de provas direcionada e útil.
Para as partes:
- Previsibilidade: clareza sobre o que será discutido e provado.
- Economia de recursos: evita gastos com provas desnecessárias.
- Segurança jurídica: conhecimento dos parâmetros de julgamento.
Para o sistema de justiça:
- Eficiência administrativa: otimização da pauta de audiências.
- Qualidade das decisões: julgamentos mais fundamentados e precisos.
- Redução do congestionamento: menor número de recursos por nulidades.
Saneamento processual como diferencial competitivo
O domínio da fase de saneamento é competência essencial do advogado moderno, representando oportunidade única de influenciar definitivamente os rumos do processo.
A correta compreensão do art. 357 do CPC e suas nuances permite ao profissional maximizar as chances de êxito e otimizar a prestação jurisdicional.
O saneamento bem conduzido transcende a mera observância formal da lei, constituindo ferramenta estratégica de advocacia que, quando adequadamente manejada, pode ser determinante para o resultado final da demanda.
Investir na qualificação técnica desta fase processual representa diferencial competitivo significativo na prática jurídica contemporânea.
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O que é saneamento do processo?
O saneamento do processo é uma etapa fundamental do procedimento judicial brasileiro, disciplinada pelo artigo 357 do Código de Processo Civil, que consiste em uma decisão interlocutória proferida pelo juiz com o objetivo de “limpar” o processo de vícios e irregularidades, preparando-o adequadamente para a fase de instrução probatória.
Trata-se de um ato judicial complexo que vai muito além da mera verificação de regularidades processuais, envolvendo atividade intelectual do magistrado para delimitar questões controvertidas, organizar a atividade probatória e estabelecer os marcos jurídicos que nortearão o julgamento.
A decisão saneadora tem natureza híbrida, combinando aspectos de controle processual (resolução de questões pendentes) com aspectos organizativos (delimitação de questões de fato e direito), constituindo verdadeiro “divisor de águas” entre as fases postulatória e probatória do processo.
Como funciona o saneamento de um processo?
O saneamento funciona por meio de uma sequência obrigatória de atividades judiciais previstas nos incisos do artigo 357 do CPC. O juiz deve, necessariamente:
(I) resolver questões processuais pendentes, como nulidades ou irregularidades que comprometam o desenvolvimento do feito;
(II) delimitar as questões de fato sobre as quais deverão incidir as provas, especificando quais pontos são realmente controvertidos;
(III) definir a distribuição do ônus da prova, observando as regras do artigo 373 e eventuais hipóteses de inversão;
(IV) delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito, identificando as normas aplicáveis; e
(V) designar audiência de instrução e julgamento quando necessário.
Quais são as modalidades de saneamento previstas no CPC/2015?
O saneamento por decisão unilateral do juiz (modalidade tradicional), o saneamento consensual (quando as partes apresentam delimitação consensual das questões para homologação judicial) e a audiência de saneamento (obrigatória nos casos de complexidade).
Após proferida a decisão, inicia-se um período de estabilização de 5 dias durante o qual as partes podem pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, sendo que somente após esse prazo (ou após a deliberação sobre os esclarecimentos) a decisão se torna definitivamente estável e sujeita a recurso.
O que significa concluso para decisão saneadora?
Quando os autos são conclusos para decisão saneadora, significa que o processo se encontra na secretaria judicial aguardando que o magistrado profira a decisão de saneamento e organização prevista no artigo 357 do CPC.
Essa conclusão ocorre após o término da fase postulatória (petição inicial, contestação, eventuais tréplica ou manifestações sobre documentos) e quando não se verificam as hipóteses de extinção do processo ou julgamento antecipado do mérito.
O termo “concluso” indica que todos os elementos necessários para a decisão já estão presentes nos autos e que cabe ao juiz exercer sua atividade jurisdicional.
Este momento processual é estratégico porque representa a transição entre a fase em que as partes formulam suas alegações e aquela em que se define como o processo será conduzido até o julgamento final.
Durante o período em que os autos permanecem conclusos para saneamento, o juiz deve analisar todo o conjunto probatório já produzido, verificar a presença ou ausência de questões processuais pendentes, identificar os pontos controvertidos que demandam prova e estabelecer a estratégia de condução da fase instrutória.
A conclusão para saneamento sinaliza, portanto, que o processo está maduro para essa importante decisão organizativa.
Quando o juiz pode sanear o processo?
O juiz deve sanear o processo obrigatoriamente sempre que não se verificarem as hipóteses de extinção do processo sem resolução do mérito (art. 485, CPC), julgamento antecipado do mérito (art. 355, CPC), julgamento antecipado parcial do mérito (art. 356, CPC) ou autocomposição.
O artigo 357 do CPC utiliza a expressão “deverá o juiz”, indicando que se trata de um dever-poder, não de faculdade judicial.
Dessa forma, o momento adequado é após o término da fase postulatória, quando já foram apresentadas as alegações iniciais das partes e eventuais documentos, mas antes da designação de audiência de instrução e julgamento.
Temporalmente, o saneamento deve ocorrer após a apresentação da contestação e de eventuais manifestações subsequentes (tréplica, especificação de provas, manifestação sobre documentos juntados pela parte contrária), constituindo marco divisório entre as fases postulatória e probatória.
O que vem depois da decisão saneadora?
Após a decisão saneadora, abre-se o prazo comum de 5 dias para que as partes possam pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes (§ 1º do art. 357, CPC), período durante o qual a decisão permanece em estado de instabilidade e sujeita a complementações ou correções pelo próprio juiz.
Transcorrido esse prazo sem manifestação das partes, ou após a deliberação judicial sobre eventuais pedidos de esclarecimento, a decisão se torna estável e o processo segue para a fase de instrução probatória.
Neste momento, implementam-se as determinações da decisão saneadora: produção das provas deferidas na ordem estabelecida, designação e realização de audiência de instrução e julgamento quando necessário, e cumprimento da distribuição do ônus probatório fixada.
Qual o recurso para decisão saneadora?
O recurso cabível contra a decisão saneadora é o agravo de instrumento, por se tratar de decisão interlocutória que causa gravame às partes.
Contudo, há uma particularidade temporal importante: o prazo para interposição do recurso somente se inicia após a estabilização da decisão, que ocorre depois de transcorrido o prazo de 5 dias sem pedido de esclarecimentos pelas partes, ou após a deliberação judicial sobre eventuais esclarecimentos solicitados.
Esta regra foi consolidada pela jurisprudência do STJ, que reconheceu o caráter colaborativo da decisão saneadora e a necessidade de aguardar sua completa estabilização antes de iniciar a contagem do prazo recursal.
A decisão de saneamento é obrigatória?
Sim, a decisão de saneamento é obrigatória sempre que o processo não se enquadrar nas hipóteses de extinção sem resolução do mérito, julgamento antecipado ou autocomposição.
O artigo 357 do CPC utiliza expressão imperativa (“deverá o juiz”), indicando que se trata de dever jurisdicional, não de faculdade.
Esta obrigatoriedade decorre da necessidade de organizar adequadamente o processo para a fase de instrução, garantindo eficiência, duração razoável e qualidade na prestação jurisdicional.
O juiz é obrigado a sanear o processo?
Sim, o juiz tem o dever jurídico de sanear o processo quando este não se enquadrar nas hipóteses de extinção, julgamento antecipado ou autocomposição.
Trata-se de obrigação funcional decorrente do artigo 357 do CPC, que impõe ao magistrado a realização das atividades de saneamento como pressuposto para o desenvolvimento regular da fase instrutória.
Esta obrigação insere-se no contexto mais amplo dos deveres jurisdicionais de conduzir o processo de forma eficiente, cooperativa e célere, contribuindo para a duração razoável da tramitação e para a qualidade da prestação jurisdicional.
A obrigatoriedade do saneamento pelo juiz não se limita à mera formalidade de proferir uma decisão, mas abrange o dever de realizar substancialmente as atividades previstas nos incisos do artigo 357: resolver questões processuais pendentes, delimitar questões controvertidas, distribuir adequadamente o ônus probatório e organizar a instrução.
O descumprimento deste dever pode caracterizar erro judicial passível de responsabilização, especialmente se causar prejuízos às partes ou comprometer a eficiência processual.
A jurisprudência, contudo, tem sido pragmática ao reconhecer que o essencial é o cumprimento das finalidades do saneamento, admitindo formas não convencionais quando estas se mostrem adequadas ao caso concreto.