O homicídio doloso é um dos crimes mais graves previstos no Código Penal (CP) e carrega consigo uma análise complexa do elemento subjetivo, o dolo.
Entender suas nuances é essencial para advogados que atuam no Direito Penal.
Este artigo aborda as características do homicídio doloso, diferenças em relação a outros crimes contra a vida e as consequências penais.
O que caracteriza um homicídio doloso?
O homicídio doloso ocorre quando o agente tem a intenção de matar ou assume o risco de causar a morte de outra pessoa.
Essa intenção pode ser direta, quando o autor claramente deseja o resultado, ou eventual, quando ele aceita a possibilidade do desfecho letal.
O homicídio doloso está previsto no art. 121 do CP, como abordaremos com mais detalhes a seguir.
Tipos de dolo
O dolo é o elemento subjetivo que distingue o homicídio doloso de outros crimes contra a vida.
É possível identificar diversas formas de dolo que influenciam na análise penal, confira alguns:
- Dolo Direto: Ocorre quando há vontade clara de atingir o resultado morte. O agente calcula e executa sua conduta com essa intenção.
- Dolo Indireto: Refere-se ao resultado colateral previsível de uma conduta. Exemplo: ao explodir um carro para matar uma pessoa, também são mortos outros passageiros.
Nessa perspectiva, o dolo indireto pode ser subdividido em alternativo e eventual:
- Dolo Eventual: Manifesta-se quando o autor, embora não deseje explicitamente o resultado, aceita os riscos de sua ação. Por exemplo, incendiar um prédio sabendo que há pessoas dentro.
- Dolo Alternativo: Configura-se quando o agente não se importa qual será o resultado específico dentre dois ou mais possíveis, mas aceita qualquer um deles. Por exemplo, atirar contra um grupo de pessoas sem se preocupar com quem será atingido.
Embora não seja dolo, a culpa consciente merece destaque por gerar confusões!
Nesta hipótese, o agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que pode evitá-lo, configurando imprudência. Por isso, difere-se do dolo eventual, em que o risco é assumido.
Quais os principais tipos de homicídio do art. 121 do CP?
Os principais tipos de homicídios previstos no art. 121 do Código Penal incluem:
- Homicídio Doloso Simples: Caracteriza-se pela intenção de matar, sem circunstâncias agravantes ou atenuantes.
- Homicídio Doloso Qualificado: Possui elementos que aumentam a gravidade, como emboscada, motivo torpe ou meio cruel.
- Homicídio Culposo: Ocorre por negligência, imprudência ou imperícia, sem intenção de matar.
- Homicídio Preterdoloso: Resulta de uma conduta dolosa que acaba provocando um resultado mais grave do que o pretendido, como a morte.
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Qual a pena para homicídio doloso?
O art. 121 do CP prevê reclusão de 6 a 20 anos para homicídio doloso simples.
Se for qualificado (incisos I a V do §2° do art. 121 do CP), a pena aumenta para 12 a 30 anos.
Em ambos os casos, o regime inicial depende do tempo da condenação.
Como a pena para homicídio pode ser atenuada?
Em certos casos, o sistema jurídico permite a redução da pena com base em fatores atenuantes ou privilegiadores, que levam em consideração aspectos emocionais, sociais ou de colaboração do réu com a justiça.
Esses fatores podem ser decisivos para o enquadramento do crime e a definição da pena.
Atenuantes Genéricas (art. 65 do CP)
O art. 65 do CP prevê um rol de atenuantes genéricos que podem diminuir a pena:
“Art. 65, CP. São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
I – ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;
II – o desconhecimento da lei;
III – ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.”
Hipóteses de Homicídio Privilegiado (art. 121, §1° do CP)
O § 1º do Art. 121 do CP prevê uma redução da pena de ⅙ a ⅓ caso o juiz entenda que trata-se de homicídio privilegiado.
Sendo que o homicídio privilegiado se dá quando o crime é cometido sob:
- Relevante valor social: interesse é de toda a comunidade, ex.: matar um estuprador de crianças do bairro;
- Relevante valor moral: há um interesse individual que envolve compaixão ou misericórdia, ex.: eutanásia;
- Sob o domínio de violenta emoção: ocorre sob injusta provocação da vítima e a reação é imediata.
Diferenças entre causa de diminuição do homicídio e atenuante genérica
É comum que haja uma certa confusão entre a aplicação do art. 121, § 1º do CP e o art. 65, inciso III do CP.
Então, observe:
- Causa de diminuição do homicídio (art. 121, § 1º do CP):
- O autor está sob o domínio de violenta emoção e foi provocado injustamente pela vítima;
- A reação é imediata
- O homicídio é obrigatoriamente doloso.
- Atenuante genérica (art. 65, inciso III do CP):
- O autor está sob a influência de violenta emoção e foi provocado injustamente pela vítima;
- Não há requisito temporal;
- Aplica-se a qualquer crime.
Como a pena para homicídio pode ser agravada?
Há situações específicas em que o homicídio doloso pode ter sua pena agravada.
Homicídio Doloso Qualificado (art. 121, §§2° e 2°-B do CP)
Previsto no § 2º do Art. 121 do CP, o homicídio doloso qualificado agrava a pena base para reclusão de 12 a 30 anos, quando envolve as seguintes circunstâncias:
“Art. 121, § 2°, CP. Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II – por motivo futil;
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
VI – Revogado.
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido:
IX – contra menor de 14 (quatorze) anos:
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.”
“Art. 121, § 2º-B, CP. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de:
I – 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o aumento de sua vulnerabilidade;
II – 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.
III – 2/3 (dois terços) se o crime for praticado em instituição de educação básica pública ou privada.”
Elemento Subjetivo e Justiça Penal
Compreender o dolo e suas variações é essencial para a análise do homicídio doloso e sua classificação penal.
A atuação de advogados especializados faz toda a diferença para assegurar uma aplicação justa da pena, respeitando os direitos e as peculiaridades de cada caso.
Referências:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm