STJ reconhece dano moral presumido por exposição indevida de dados pessoais

8 set, 2025
Uma advogada conversando com seu cliente sobre o fato de que o STJ reconhece dano moral presumido por exposição indevida de dados pessoais.

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento sobre a proteção de dados pessoais ao decidir que a disponibilização indevida de informações pessoais em banco de dados para terceiros, sem consentimento do titular, caracteriza violação dos direitos da personalidade e gera dano moral presumido (in re ipsa).

A decisão, com relatoria da ministra Nancy Andrighi (REsp 2.201.694), amplia significativamente as responsabilidades dos gestores de dados e estabelece novo paradigma para ações indenizatórias no âmbito da proteção de dados.

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O que exatamente decidiu o STJ no caso paradigmático?

A Terceira Turma estabeleceu que gestores de bancos de dados que disponibilizam a terceiros informações cadastrais ou de adimplemento do consumidor, em desacordo com a legislação específica, devem responder objetivamente pelos danos morais causados. 

A ministra Nancy Andrighi enfatizou que esses danos “são presumidos, diante da forte sensação de insegurança” experimentada pela vítima, dispensando prova do prejuízo concreto.

Confira a Ementa abaixo: 

EMENTA CIVIL, CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TEMA 710 E SÚMULA 550 DO STJ. DISTINÇÃO. BANCO DE DADOS. DISPONIBILIZAÇÃO DOS DADOS DO CADASTRADO. HIPÓTESES PREVISTAS NA LEI Nº 12.414/2011. TERCEIROS CONSULENTES. RESTRIÇÃO LEGAL. DISPONIBILIZAÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL PRESUMIDO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO GESTOR DE BANCO DE DADOS. CONFIGURAÇÃO. 1. Ação de obrigação de fazer c/c compensação de danos morais. 2. No particular, não se aplicam o Tema 710/STJ e a Súmula 550/STJ, que tratam especificamente do credit scoring , ficando expressamente consignado que essa prática “não constitui banco de dados”, sendo este regulamentado pela Lei nº 12.414/2011. 3. O gestor de banco de dados regido pela Lei nº 12.414/2011 somente pode disponibilizar a terceiros consulentes o score de crédito, desnecessário o consentimento prévio; e o histórico de crédito, mediante prévia autorização específica do cadastrado (art. 4º, IV). Por outro lado, as informações cadastrais e de adimplemento armazenadas somente podem ser compartilhadas com outros bancos de dados (art. 4º, III). Precedentes. 4. O gestor de banco de dados que disponibiliza para terceiros consulentes o acesso aos dados do cadastrado que somente poderiam ser compartilhados entre bancos de dados (como as informações cadastrais e de adimplemento) deve responder objetivamente pelos danos morais causados ao cadastrado, que são presumidos, diante da forte sensação de insegurança por ele experimentada. Precedentes. 5. Recurso especial conhecido e provido.

Veja o acórdão no REsp 2.201.694-SP completo aqui.

Qual foi o contexto fático que originou a decisão?

O caso envolvia consumidor que ajuizou ação contra agência de informações de crédito, alegando divulgação não autorizada de seus dados pessoais

Em primeira e segunda instância, a ação foi julgada improcedente sob argumento de que os dados compartilhados não eram sensíveis e que a atuação da empresa estaria respaldada pela legislação específica de birôs de crédito. 

O STJ reformou as decisões, reconhecendo a violação e fixando o dano presumido.

Qual é a base legal da decisão e como ela se relaciona com a LGPD?

A decisão fundamenta-se na Lei 12.414/2011 (Cadastros Positivos) e na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei 13.709/2018). 

O STJ esclareceu que, conforme a legislação específica, gestores de bancos de dados podem fornecer a terceiros apenas o score de crédito (sem consentimento prévio) e o histórico de crédito (com autorização específica).

Contudo, as informações cadastrais e de adimplemento não podem ser repassadas diretamente a terceiros.

Como fica a distinção entre dados sensíveis e não sensíveis para fins de responsabilização?

A decisão inova ao estabelecer que mesmo dados considerados “não sensíveis” (como informações cadastrais básicas) podem gerar dano moral presumido quando divulgados indevidamente. 

O STJ superou a distinção baseada apenas na natureza do dado, focando na violação do consentimento e na sensação de insegurança gerada pela exposição não autorizada.

Como essa decisão impacta a prática da advocacia em proteção de dados?

Para advogados que representam titulares de dados:

  • Facilitação probatória: dispensada a prova do dano efetivo, bastando demonstrar a divulgação indevida e a falta de consentimento;
  • Ampliação do rol de demandados: empresas que compartilham dados cadastrais básicos podem ser responsabilizadas, não apenas aquelas que tratam dados sensíveis;
  • Estratégia processual: foco na demonstração da violação legal e da ausência de consentimento, com valorização da “sensação de insegurança”.

Para advogados que representam empresas:

  • Compliance rigoroso: necessidade de revisão de políticas de compartilhamento de dados, mesmo os considerados básicos;
  • Defesas técnicas: argumentação sobre bases legais específicas, consentimento válido e medidas de segurança implementadas;
  • Gestão de riscos: implementação de programas de governança de dados mais robustos.
Uma advogada conversando com outro advogado sobre o reconhecimento pelo STJ de dano moral presumido por exposição indevida de dados pessoais.

Quais são os critérios para configuração do dano moral presumido?

A jurisprudência do STJ estabeleceu os seguintes parâmetros:

  1. Divulgação não autorizada: compartilhamento sem base legal ou consentimento válido;
  2. Violação da finalidade: uso dos dados para propósito diverso do autorizado;
  3. Sensação de insegurança: exposição que gera vulnerabilidade ao titular;
  4. Quebra da confiança: violação da expectativa legítima de proteção.

Como empresas podem se proteger após essa decisão?

Medidas preventivas essenciais:

  • Auditoria de dados: mapeamento completo dos dados coletados, armazenados e compartilhados;
  • Bases legais claras: identificação precisa da base legal para cada tratamento de dados;
  • Políticas de consentimento: implementação de mecanismos robustos de coleta e gestão de consentimentos;
  • Contratos específicos: cláusulas detalhadas sobre proteção de dados em contratos com fornecedores e parceiros.

Governança e compliance

Após a decisão do STJ sobre dano moral presumido por exposição indevida de dados, algumas medidas de governança e compliance são indicadas como:

  • DPO qualificado: nomeação de encarregado com expertise técnica e jurídica;
  • Treinamento contínuo: capacitação de equipes sobre LGPD e melhores práticas;
  • Incident response: procedimentos para resposta rápida a vazamentos ou violações;
  • Documentação: registro detalhado de todas as atividades de tratamento.

Qual é o impacto nos valores indenizatórios?

Embora a decisão não fixe valores específicos, o reconhecimento do dano presumido tende a uniformizar e elevar os patamares indenizatórios. 

Precedentes similares têm fixado valores entre R$ 5.000 a R$ 20.000 para pessoas físicas, podendo ser majorados conforme a gravidade da violação, o número de pessoas atingidas e a capacidade econômica do ofensor.

Quais são as recomendações estratégicas para escritórios de advocacia?

Contencioso:

  • Criar departamentos especializados em direito digital e proteção de dados;
  • Desenvolver modelos de petições para ações de dano moral por violação de dados;
  • Capacitar equipes em aspectos técnicos de segurança da informação.

Consultivo:

  • Oferecer serviços de compliance em LGPD como diferencial competitivo;
  • Desenvolver produtos jurídicos para implementação de governança de dados;
  • Estabelecer parcerias com consultorias especializadas em cibersegurança.

Oportunidades para advocacia na proteção de dados

A decisão do STJ representa marco na proteção de dados pessoais no Brasil, estabelecendo que a violação da privacidade gera dano moral presumido independentemente da natureza do dado ou da comprovação de prejuízo concreto. 

Para a advocacia, isso significa uma nova era de oportunidades no contencioso de proteção de dados e na consultoria preventiva, exigindo especialização técnica e atualização constante sobre as rápidas mudanças no direito digital.

O precedente sinaliza que o Judiciário brasileiro está alinhado com as melhores práticas internacionais de proteção de dados, privilegiando a tutela da privacidade sobre interesses meramente econômicos. 

Empresas que não se adaptarem a esse novo paradigma enfrentarão riscos jurídicos e reputacionais crescentes, enquanto aquelas que investirem em compliance robusto ganharão vantagem competitiva significativa no mercado.

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O que exatamente decidiu o STJ no caso paradigmático REsp 2.201.694-SP?

A Terceira Turma do STJ, com relatoria da ministra Nancy Andrighi, estabeleceu que gestores de bancos de dados que disponibilizam a terceiros informações cadastrais ou de adimplemento do consumidor, em desacordo com a legislação específica, devem responder objetivamente pelos danos morais causados

O tribunal consolidou o entendimento de que a disponibilização indevida de informações pessoais sem consentimento do titular caracteriza violação dos direitos da personalidade e gera dano moral presumido (in re ipsa), dispensando a prova do prejuízo concreto. 

A decisão enfatiza que esses danos “são presumidos, diante da forte sensação de insegurança” experimentada pela vítima.

Qual foi a inovação jurisprudencial trazida por essa decisão em relação à natureza dos dados?

A decisão inovou significativamente ao estabelecer que mesmo dados considerados “não sensíveis” (como informações cadastrais básicas) podem gerar dano moral presumido quando divulgados indevidamente. 

O STJ superou a distinção tradicional baseada apenas na natureza do dado, focando na violação do consentimento e na sensação de insegurança gerada pela exposição não autorizada. 

Isso significa que a proteção jurídica não se restringe mais apenas aos dados sensíveis previstos na LGPD, ampliando o escopo de responsabilização para qualquer divulgação indevida de dados pessoais.

Quais são os critérios estabelecidos pelo STJ para configuração do dano moral presumido?

O STJ estabeleceu quatro parâmetros principais para configurar o dano moral presumido:

Divulgação não autorizada: compartilhamento sem base legal ou consentimento válido do titular;
Violação da finalidade: uso dos dados para propósito diverso do autorizado originalmente;
Sensação de insegurança: exposição que gera vulnerabilidade e desconforto ao titular dos dados;
Quebra da confiança: violação da expectativa legítima de proteção que o titular depositava na empresa.
Esses critérios dispensam a necessidade de prova do dano efetivo, bastando demonstrar a ocorrência da violação.

Como essa decisão impacta a estratégia processual dos advogados?

Para advogados que representam titulares de dados, a decisão traz:
Facilitação probatória: dispensada a prova do dano efetivo, bastando demonstrar a divulgação indevida e a falta de consentimento;
Ampliação do rol de demandados: empresas que compartilham dados cadastrais básicos podem ser responsabilizadas;
Nova estratégia processual: foco na demonstração da violação legal e valorização da “sensação de insegurança”.

Para advogados que representam empresas:
Compliance rigoroso: necessidade de revisão urgente de políticas de compartilhamento;
Defesas técnicas: argumentação sobre bases legais específicas e consentimento válido;
Gestão preventiva de riscos: implementação de programas de governança mais robustos.

Quais medidas preventivas as empresas devem adotar após essa decisão?

As empresas devem implementar um conjunto abrangente de medidas preventivas:

Auditoria e Mapeamento:
Mapeamento completo dos dados coletados, armazenados e compartilhados;
Identificação precisa da base legal para cada tratamento de dados.

Governança e Compliance:
Nomeação de DPO (Encarregado) qualificado com expertise técnica e jurídica;
Implementação de mecanismos robustos de coleta e gestão de consentimentos;
Treinamento contínuo de equipes sobre LGPD e melhores práticas.

Documentação e Contratos:
Cláusulas detalhadas sobre proteção de dados em contratos com fornecedores;
Registro detalhado de todas as atividades de tratamento;
Procedimentos para resposta rápida a vazamentos ou violações.

Qual é o impacto esperado nos valores indenizatórios e na uniformização da jurisprudência?

Embora a decisão não fixe valores específicos, o reconhecimento do dano moral presumido tende a uniformizar e elevar os patamares indenizatórios em todo o país. 

Precedentes similares têm fixado valores entre R$ 5.000 a R$ 20.000 para pessoas físicas, podendo ser majorados conforme:

– A gravidade da violação cometida;
– O número de pessoas atingidas pelo incidente;
– A capacidade econômica do ofensor;
– A reincidência em violações similares.

Essa uniformização representa maior segurança jurídica tanto para titulares quanto para empresas, estabelecendo parâmetros mais claros para acordos e sentenças.

Que oportunidades essa decisão cria para a advocacia especializada?

A decisão representa um marco divisório que cria diversas oportunidades para escritórios de advocacia:

No Contencioso:
– Criação de departamentos especializados em direito digital e proteção de dados;
– Desenvolvimento de modelos de petições para ações de dano moral por violação de dados;
– Capacitação de equipes em aspectos técnicos de segurança da informação;
– Aumento significativo da demanda por ações indenizatórias.

Na Consultoria Preventiva:
– Oferta de serviços de compliance em LGPD como diferencial competitivo;
– Desenvolvimento de produtos jurídicos para implementação de governança de dados;
– Parcerias estratégicas com consultorias especializadas em cibersegurança;
– Assessoria em auditorias e adequações à legislação.

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Sobre o autor

Micaela Sanches

Micaela Sanches

Bacharel em Direito, com especializações em Comunicação e Jornalismo, além de Direito Ambiental e Direito Administrativo. Graduanda em Publicidade e Propaganda, uma das minhas paixões. Amo escrever e aprender sobre diversos assuntos.

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