A abolitio criminis representa um dos institutos mais relevantes do Direito Penal brasileiro, especialmente para advogados criminalistas que precisam compreender seus efeitos práticos na extinção da punibilidade.
Este instituto jurídico, previsto no artigo 2º do Código Penal, tem impacto direto na prática advocatícia, desde a análise de processos em andamento até a revisão de condenações já transitadas em julgado.
Para o advogado(a), dominar este tema é essencial não apenas para fundamentar petições e recursos, mas também para orientar clientes sobre os efeitos retroativos da descriminalização de condutas.
Este artigo aborda as principais questões práticas sobre abolitio criminis, proporcionando uma consulta rápida e objetiva para profissionais do Direito. Acompanhe!
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O que é abolitio criminis e qual sua definição jurídica?
A abolitio criminis é o fenômeno jurídico que ocorre quando uma lei posterior deixa de considerar determinada conduta como crime, extinguindo completamente sua tipificação penal.
Diferentemente de outros institutos despenalizadores, a abolitio criminis elimina por completo o enquadramento jurídico-penal da conduta, não se limitando à extinção ou comutação da pena. Dessa forma, é dito que ela extingue a punibilidade.
O instituto está previsto no artigo 2º do Código Penal:
Art. 2º, CP – Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Qual o fundamento constitucional da abolitio criminis?
O fundamento constitucional encontra-se no artigo 5º, inciso XL da Constituição Federal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.
Este dispositivo garante que, uma vez revogada a tipificação penal, o ex-condenado possa ter seu histórico penal limpo, promovendo uma justiça retroativa que beneficia quem já cumpriu sua pena.
O princípio também se relaciona com a legalidade estrita prevista no artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal, que assegura que não há crime sem lei anterior que o defina.

Quais são os efeitos práticos da abolitio criminis para processos em andamento?
Quando ocorre abolitio criminis, os efeitos são imediatos e abrangentes:
- Extinção da punibilidade para processos em andamento;
- Arquivamento obrigatório de investigações e processos penais;
- Cessação imediata da execução da pena para condenados;
- Eliminação de todos os efeitos penais da condenação;
- Aplicação automática, sem necessidade de pedido ou requerimento específico.
Como ficam os efeitos civis após a abolitio criminis?
Como visto, a abolitio criminis ocorre quando uma lei nova deixa de considerar determinada conduta como crime, extinguindo, assim, a punibilidade daquele ato.
No entanto, essa mudança na esfera penal não afeta automaticamente os efeitos civis da conduta praticada, especialmente no que se refere à reparação de danos.
De acordo com o art. 91, inciso I, do Código Penal, a sentença condenatória penal pode gerar efeitos civis, como a obrigação de reparar o dano causado.
Veja o artigo na íntegra:
Art. 91, CP – São efeitos da condenação:
I – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;
Mesmo com a revogação da norma penal incriminadora, esses efeitos extrapenais não são automaticamente extintos, pois decorrem da lesão a bens jurídicos de terceiros, e não apenas da tipificação penal.
O art. 65 do Código de Processo Penal estabelece que a absolvição penal por inexistência do fato ou negativa de autoria pode afastar os efeitos civis.
Confira o que diz o artigo art. 65 do CPP:
Art. 65, CPP. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
No entanto, no caso da abolitio criminis não se está diante de uma declaração de inexistência do fato, mas sim de sua descriminalização, o que não impede a manutenção da responsabilidade civil.
Isto é, a situação descrita no art. 65 do CPP não é aplicável aos casos de extinção de punibilidade (como a abolitio criminis).
Exemplo prático: Suponha que uma pessoa tenha sido condenada por um crime de difamação e, no processo, tenha sido fixada uma indenização à vítima.
Se, posteriormente, uma nova lei descriminaliza a conduta (abolitio criminis), a obrigação de indenizar permanece válida, pois decorre da lesão ao direito da personalidade da vítima, ainda que a conduta não seja mais penalmente relevante.
Portanto, a abolitio criminis extingue os efeitos penais, como a pena ou medidas restritivas de liberdade, mas não afeta os efeitos civis, principalmente a reparação dos danos causados.
Esses permanecem regidos pelas normas do Direito Civil.
Qual a diferença entre abolitio criminis e novatio legis in melius?
A distinção é fundamental para a prática advocatícia:
Abolitio criminis:
- Descriminaliza completamente a conduta;
- Extingue a tipicidade do fato;
- Elimina todos os efeitos penais.
Novatio legis in melius:
- Apenas torna a lei mais branda;
- Mantém a tipicidade do fato;
- Reduz a pena ou cria situação mais favorável ao réu.
Quais são os exemplos históricos mais relevantes de abolitio criminis no Brasil?
Ao longo da história brasileira, diversos tipos penais foram eliminados do ordenamento por deixarem de refletir os valores sociais, culturais e constitucionais vigentes.
A seguir, alguns dos exemplos mais relevantes:
Adultério (Art. 240 do Código Penal)
- Revogado pela Lei 11.106/2005
- A conduta consistia em manter relações extraconjugais, configurando crime para a mulher casada e, em casos específicos, para o homem casado.
- Justificativa da revogação: o adultério passou a ser considerado um tema exclusivamente do âmbito privado, da moral ou do Direito de Família, sem relevância penal. Sua criminalização violava princípios como a liberdade individual, a igualdade de gênero e o direito à intimidade.
Sedução (Art. 217 do Código Penal)
- Revogado pela Lei 11.106/2005
- Criminalizava a “sedução” de mulher virgem, maior de 14 e menor de 18 anos, mediante promessa de casamento.
- Justificativa da revogação: refletia uma visão ultrapassada e patriarcal sobre a sexualidade feminina. A tutela penal estava ligada à ideia de “honra da família”, e não à proteção efetiva da liberdade sexual da mulher. Com o avanço dos direitos fundamentais, esse tipo penal tornou-se incompatível com a ordem constitucional.
Vadiagem (Art. 59 da LCP – Lei de Contravenções Penais)
- A norma previa pena para quem estivesse “em ociosidade habitual”, sem ocupação lícita.
- Justificativa: o tipo penal é amplamente considerado incompatível com a Constituição Federal, sobretudo com os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), igualdade (art. 5º, caput) e liberdade individual.
Homicídio privilegiado por “defesa da honra”
- Embora não tenha sido revogado por lei, o STF firmou entendimento em 2021 (HC 178.777) de que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por violar os princípios da dignidade da mulher e da igualdade de gênero.
- Relevância: Esse entendimento tem efeito prático análogo ao da abolitio criminis no sentido de impedir a aplicação de uma causa de exclusão da ilicitude.
Os casos de abolitio criminis no Brasil revelam a evolução do Direito Penal em consonância com os direitos fundamentais e com a transformação dos valores sociais.
A revogação de tipos penais ultrapassados demonstra o movimento de restrição do uso do Direito Penal a condutas que realmente lesem bens jurídicos relevantes e universalmente reconhecidos.
A análise da abolitio criminis não é apenas técnica, mas também política e cultural — refletindo os limites da atuação do Estado na vida privada e a busca por um sistema penal mais justo, racional e proporcional.
Qual o juízo competente para reconhecer a abolitio criminis?
Para processos em andamento, o juízo competente é aquele que teria competência para julgar o crime, caso não tivesse ocorrido a abolição.
Para condenações já transitadas em julgado, segundo a Súmula 611 do STF:
“Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna”.
Portanto, deve ser direcionado ao Juízo das Execuções Penais, conforme artigo 107, inciso III, do CP, c/c artigo 66, incisos I e II, da LEP.
Art. 107 do CP – Extingue-se a punibilidade:
III – pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
Art. 66 da LEP – Compete ao Juiz da execução:
I – aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado;
II – declarar extinta a punibilidade;
Como a abolitio criminis afeta a reincidência e os antecedentes criminais?
A abolitio criminis, ao revogar a norma penal incriminadora, extingue a punibilidade da conduta anteriormente considerada crime.
Seus efeitos vão além da simples interrupção da execução da pena: ela desconstitui todos os efeitos penais da condenação, inclusive aqueles relacionados à reincidência, aos antecedentes criminais e ao registro de condenações.
Efeitos sobre a reincidência
A reincidência (art. 63 do Código Penal) ocorre quando o agente comete novo crime após o trânsito em julgado de uma condenação anterior.
Contudo, se essa condenação anterior se referia a um tipo penal posteriormente revogado por abolitio criminis, ela não pode mais ser considerada para fins de reincidência.
Dessa forma, a reincidência exige que a condenação anterior seja válida e eficaz no momento da nova infração penal. Com a abolitio criminis, a condenação anterior deixa de existir juridicamente, já que a conduta não mais é criminosa.
Assim, não subsiste base legal para reconhecer a reincidência.
Efeitos sobre os antecedentes criminais
Os antecedentes criminais são elementos avaliados para fixação da pena (art. 59 do CP), progressão de regime, concessão de benefícios, entre outros.
A condenação por fato que deixou de ser crime por abolitio criminis não pode permanecer no registro de antecedentes, sob pena de violação do princípio da legalidade penal.
Portanto, não é lícito considerar a antiga condenação como um fator negativo na análise da personalidade do agente ou para justificar restrições de direitos.
Efeitos sobre os registros penais
Como consequência da abolitio criminis:
- O nome do agente deve ser excluído do rol dos culpados (art. 748 do CPP, por analogia).
- A certidão de antecedentes criminais deve ser retificada, removendo qualquer menção à condenação anulada.
- Não pode haver efeitos administrativos, como restrições em concursos públicos, perda de cargo ou função, baseadas em condenações por condutas que já não são mais consideradas crime.
Trata-se da aplicação prática do princípio nullum crimen, nulla poena sine lege — não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX, da CF/88).
Exemplo prático: um indivíduo foi condenado em 2002 pelo crime de vadiagem (art. 59 da LCP). Mesmo que não tenha cumprido pena, essa condenação constava como antecedente criminal.
Anos depois, o tipo penal é considerado inconstitucional e o desuso generalizado impede sua aplicação.
A eventual tentativa de usar essa condenação como agravante em nova infração seria ilegal, pois a base jurídica que sustentava a punição não existe mais.
A abolitio criminis tem efeito ex tunc, ou seja, retroage para atingir inclusive condenações já transitadas em julgado, desconstituindo seus efeitos penais diretos e indiretos.
Isso garante que ninguém sofra consequências jurídicas por um fato que o ordenamento jurídico atual não mais reconhece como crime, assegurando segurança jurídica e respeito aos direitos fundamentais.
Existe diferença entre abolitio criminis e anistia?
Sim, as diferenças são substanciais:
Abolitio criminis:
- A conduta deixa de ser crime;
- Extinção absoluta e retroativa;
- Apaga todas as condenações;
- Anula todos os efeitos penais.
Anistia:
- A conduta continua sendo crime;
- Medida de natureza política;
- Perdoa determinados crimes;
- Pode manter registros criminais ou restrições.

Qual o procedimento prático para requerer os efeitos da abolitio criminis?
Embora os efeitos da abolitio criminis sejam considerados automáticos, ou seja, produzem efeitos desde a vigência da nova lei que revoga o tipo penal anterior, a atuação do advogado(a) é essencial para garantir a aplicação prática desse benefício.
O passo a passo recomendado envolve:
- Identificar a norma que revogou o tipo penal: o primeiro passo é localizar a nova lei que extinguiu a incriminação da conduta. É importante verificar se a revogação ocorreu de forma expressa e se não houve substituição por outro tipo penal que possa abranger a mesma conduta.
- Analisar se a conduta do cliente se enquadra no tipo penal abolido: é fundamental verificar se os fatos imputados ao cliente correspondem exatamente à figura típica que foi revogada. Essa análise evita enquadramentos equivocados em tipos penais ainda vigentes.
- Verificar a fase do processo e a competência do juízo: se houver condenação com trânsito em julgado, o pedido deverá ser feito ao juízo da execução penal, conforme previsto no artigo 66, inciso I, da Lei de Execução Penal. Se a ação penal ainda estiver em curso, o pedido deve ser direcionado ao juízo criminal responsável pela causa, solicitando o reconhecimento da extinção da punibilidade ou o trancamento da ação penal.
- Apresentar petição fundamentada: o advogado(a) deve protocolar requerimento solicitando expressamente o reconhecimento da extinção da punibilidade com base na abolitio criminis. A fundamentação principal deve estar no artigo 107, inciso III, do Código Penal, que prevê a extinção da punibilidade nos casos em que a lei deixa de considerar o fato como crime.
- Incluir jurisprudência e argumentos de reforço: sempre que possível, é recomendável apresentar precedentes judiciais que reconheçam a abolitio criminis em situações semelhantes. Isso fortalece o pedido e contribui para uma decisão mais célere e segura.
- Requerer medidas complementares, quando cabíveis: além do reconhecimento da extinção da punibilidade, é possível requerer:
- A exclusão do nome do cliente dos registros de antecedentes criminais;
- O cancelamento de eventuais mandados de prisão expedidos;
- A cessação imediata de medidas restritivas de direitos ou de liberdade;
- A retirada do nome do BNMP e outros cadastros oficiais.
Quais cuidados o advogado deve ter ao invocar a abolitio criminis?
A revogação de um tipo penal não significa, automaticamente, que toda e qualquer conduta anteriormente punível deixará de produzir efeitos jurídicos.
Por isso, é essencial que o advogado adote certos cuidados técnicos ao pleitear os efeitos da abolitio criminis, garantindo uma atuação eficaz e juridicamente segura.
Os principais cuidados são:
Verificar se houve efetiva revogação do tipo penal, e não mera alteração legislativa: é fundamental analisar com atenção o conteúdo da nova norma penal para confirmar que houve extinção completa do tipo penal anteriormente previsto, e não apenas uma modificação de seus elementos, pena ou nomenclatura. Mudanças parciais podem implicar apenas uma lei mais benéfica, e não uma abolitio criminis propriamente dita.
Confirmar que a conduta não foi reclassificada em outro dispositivo penal: a revogação de um tipo penal pode vir acompanhada da criação de uma nova figura típica que abrange a mesma conduta com outra redação. Nesses casos, não há abolitio criminis, mas sim uma readequação normativa. O advogado deve avaliar se a conduta antes praticada continua ou não sendo punida sob outro artigo.
Analisar a possibilidade de continuidade normativa típica: mesmo quando há revogação de um artigo, a punição pode ser mantida sob o fundamento de “continuidade normativa”, ou seja, quando a essência da conduta é preservada em outro dispositivo penal. Doutrina e jurisprudência reconhecem que, nesse caso, não há abolitio criminis, e sim reorganização legislativa. A atenção a esse ponto evita equívocos no pedido.
Documentar o pedido com fundamentação legal e doutrinária sólida: a petição deve conter clara exposição dos fatos, demonstração da tipificação anterior, transcrição da norma revogadora, citação do artigo 107, inciso III, do Código Penal, e, quando cabível, uso de precedentes e doutrina sobre o tema. Uma argumentação bem estruturada aumenta as chances de acolhimento imediato pelo juízo competente.
Verificar os efeitos civis e administrativos da conduta: ainda que o fato deixe de ser considerado crime, ele pode continuar gerando consequências em outras esferas, como a responsabilidade civil ou administrativa. É importante que o advogado oriente o cliente quanto a eventuais reflexos em indenizações, perdas de cargo, sanções disciplinares, entre outros.
Atuar estrategicamente quanto à fase processual: dependendo do estágio da ação penal (investigação, instrução, julgamento ou execução), o requerimento deve ser apresentado ao órgão jurisdicional competente. Além disso, o advogado pode avaliar a viabilidade de requerer o trancamento da ação penal por habeas corpus, quando a extinção da punibilidade for evidente.
Manter atenção à jurisprudência atualizada sobre o tema: como a interpretação da abolitio criminis pode variar entre tribunais e conforme o tipo penal envolvido, acompanhar decisões recentes é um diferencial estratégico. Isso permite alinhar a tese defensiva às tendências atuais do Judiciário.
O papel do advogado na aplicação da Abolitio Criminis
A abolitio criminis representa ferramenta essencial na prática advocatícia criminal, oferecendo possibilidade concreta de extinção da punibilidade para clientes cujas condutas foram posteriormente descriminalizadas.
Para advogados, compreender seus efeitos práticos, procedimentos e limitações é fundamental para uma advocacia efetiva.
A aplicação correta deste instituto exige análise técnica precisa, fundamentação jurídica bem estruturada e conhecimento das nuances procedimentais específicas.
Embora os efeitos sejam automáticos por força de lei, a atuação advocatícia qualificada garante que os direitos do cliente sejam plenamente reconhecidos e efetivados.
O domínio deste tema não apenas amplia o arsenal técnico do advogado criminalista, mas também demonstra a importância da atualização constante frente às transformações legislativas que refletem a evolução social e jurídica do país.
Confira também nosso artigo sobre Estratégias de Defesa e Acusação no Crime de Receptação: manual prático para advogados

O que é abolitio criminis e onde está prevista no ordenamento jurídico?
A abolitio criminis é o fenômeno jurídico que ocorre quando uma lei posterior deixa de considerar determinada conduta como crime, extinguindo completamente sua tipificação penal.
Está prevista no artigo 2º do Código Penal: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.”
Enquanto seu fundamento constitucional encontra-se no artigo 5º, inciso XL da Constituição Federal.
Qual a diferença entre abolitio criminis e novatio legis in melius?
A abolitio criminis descriminaliza completamente a conduta, extinguindo sua tipicidade e eliminando todos os efeitos penais. Já a novatio legis in melius apenas torna a lei mais branda, mantendo a tipicidade do fato e reduzindo a pena ou criando situação mais favorável ao réu.
Na primeira, a conduta deixa de ser crime; na segunda, continua sendo crime, mas com tratamento mais benéfico.
Quais são os efeitos práticos da abolitio criminis para processos em andamento?
Os efeitos são imediatos e abrangentes:
– Extinção da punibilidade para processos em andamento;
– Arquivamento obrigatório de investigações e processos penais;
– Cessação imediata da execução da pena para condenados;
– Eliminação de todos os efeitos penais da condenação.
A abolitio criminis afeta os efeitos civis da condenação?
Não. A abolitio criminis extingue apenas os efeitos penais da condenação, mas não afeta automaticamente os efeitos civis, especialmente a reparação de danos.
A obrigação de indenizar permanece válida, pois decorre da lesão a bens jurídicos de terceiros, e não apenas da tipificação penal. Os efeitos civis permanecem regidos pelas normas do Direito Civil.
Quais são os exemplos históricos mais relevantes de abolitio criminis no Brasil?
Os principais exemplos são:
– Adultério (Art. 240 do CP), revogado pela Lei 11.106/2005;
– Sedução (Art. 217 do CP), também revogada pela Lei 11.106/2005; e a
– Vadiagem (Art. 59 da LCP), considerada amplamente incompatível com a Constituição Federal.
Todos esses tipos penais foram eliminados por refletirem valores ultrapassados e incompatíveis com os direitos fundamentais.
Qual o juízo competente para reconhecer a abolitio criminis?
Para processos em andamento, o juízo competente é aquele que teria competência para julgar o crime.
Para condenações já transitadas em julgado, segundo a Súmula 611 do STF, compete ao juízo das execuções penais a aplicação de lei mais benigna, conforme artigo 107, inciso III, do CP, combinado com artigo 66, incisos I e II, da LEP.
Como a abolitio criminis afeta a reincidência e os antecedentes criminais?
A abolitio criminis desconstitui todos os efeitos penais da condenação, inclusive aqueles relacionados à reincidência e aos antecedentes criminais.
A condenação anterior deixa de existir juridicamente, não podendo mais ser considerada para fins de reincidência. O nome do agente deve ser excluído do rol dos culpados e a certidão de antecedentes criminais deve ser retificada.
Existe diferença entre abolitio criminis e anistia?
Sim. Na abolitio criminis, a conduta deixa de ser crime, há extinção absoluta e retroativa, apagam-se todas as condenações e anulam-se todos os efeitos penais.
Na anistia, a conduta continua sendo crime, trata-se de medida de natureza política que perdoa determinados crimes, podendo manter registros criminais ou restrições.
Qual o procedimento prático para requerer os efeitos da abolitio criminis?
O procedimento envolve:
– Identificar a norma que revogou o tipo penal;
– Analisar se a conduta se enquadra no tipo abolido;
– Verificar a fase do processo e a competência do juízo;
– Apresentar petição fundamentada com base no artigo 107, inciso III, do CP;
– Incluir jurisprudência de reforço, e
– Requerer medidas complementares como exclusão de registros criminais e cancelamento de mandados de prisão.
Quais cuidados o advogado deve ter ao invocar a abolitio criminis?
Os principais cuidados são:
– Verificar se houve efetiva revogação do tipo penal e não mera alteração legislativa;
– Confirmar que a conduta não foi reclassificada em outro dispositivo penal;
– Analisar a possibilidade de continuidade normativa típica;
– Documentar o pedido com fundamentação bem estruturada;
– Verificar os efeitos civis e administrativos;
– Atuar estrategicamente quanto à fase processual, e
– Manter atenção à jurisprudência atualizada.
Os efeitos da abolitio criminis são automáticos ou dependem de requerimento?
Os efeitos da abolitio criminis são considerados automáticos, produzindo efeitos desde a vigência da nova lei que revoga o tipo penal anterior.
Contudo, a atuação do advogado(a) é essencial para garantir a aplicação prática desse benefício, especialmente para requerer medidas complementares como exclusão de registros e cessação de restrições.
Por que a abolitio criminis é considerada importante para a prática advocatícia criminal?
A abolitio criminis é fundamental na prática advocatícia criminal porque oferece possibilidade concreta de extinção da punibilidade para clientes cujas condutas foram posteriormente descriminalizadas.
Para advogados, compreender seus efeitos práticos, procedimentos e limitações é essencial para uma advocacia efetiva, ampliando o arsenal técnico do criminalista e demonstrando a importância da atualização constante frente às transformações legislativas.